Quando Jacó Bittar foi eleito prefeito de Campinas (1988),
ele nomeou apenas um secretário. O resto foi nomeado pelo PT. Não havia
programa de governo, os nomeados eram ruins em administração pública, havia
radicais de esquerda que entraram no governo pensando que a “revolução” tinha
começado e que o capitalismo estava por um triz.
Um desses radicais de esquerda era Marco Aurélio Garcia,
esse mesmo que comandou a pior política externa que o Brasil já teve e que
agora se arvora em arrotar críticas à tentativa de retomada de uma política
séria pelo atual governo.
Como ele vinha da Unicamp (era diretor do arquivo do Arquivo
Edgard Leuenroth e o arquivo era uma bagunça - fiz uma reportagem a respeito
que até ajudou a melhorar a situação, mas até banheiros eram usados como salas
para arquivar material) foi nomeado secretário de Cultura de Campinas. Sua
primeira ação foi anunciar uma ópera húngara de um autor que ninguém conhecia
por aqui e, do mesmo modo, ele não sabia onde encontrar as partituras. Mas
mesmo assim a ópera foi anunciada e até os principais artistas que seriam
contratados tiveram seus nomes divulgados. A dois meses da “estreia”, o então
maestro da Sinfônica Municipal, Benito Juarez, foi conversar com o prefeito
para saber das partituras, pois ele precisa iniciar os ensaios – aliás, já
estavam atrasados. Benito, como regente da orquestra, era o diretor musical da
ópera. Sem partituras, sem ensaio e sem mais tempo, a turma do secretário
anunciou que a cantora principal estava doente e não poderia mais ensaiar e,
assim, a ópera estava cancelada. Era mentira, claro, mas conseguiram se livrar
do pepino provocado pela incompetência do turminha do Marco Aurélio Garcia.
Depois ele inventou uma Revista dos Trabalhadores. Bonita,
bem editada, quatro cores, papel caro, edição de luxo. Conteúdo? Artigos e mais
artigos, todos longos, dos coleguinhas do curso de História da Unicamp, de onde
Garcia era oriundo. Custo? Enorme, claro, mas o Fundo de Cultua Municipal
acabou arcando – e se esvaziando completamente – com as tiragens dos quatro ou
cinco números que a revista sobreviveu. Sem anúncios (o plano era “captar publicidade
que sustentará a publicação”), a revista teve vida efêmera.
E assim se passaram dois anos de uma inútil atuação de Marco
Aurélio Garcia à frente da Secretaria de Cultura de Campinas. No início do
terceiro ano de governo, Bittar rompeu com o PT e trocou todo o secretariado.
Garcia foi na leva, para o bem da cultura de Campinas.
Pois esse infeliz personagem reapareceu quando Lula tomou
posse. Como Assessor Especial para Assuntos Internacionais, ele passou a ditar
as diretrizes da política externa brasileira. E só fez cagadas, com o perdão do
termo, mas não encontro outro que se encaixe tão bem na sua gestão no governo
federal.
O jornalista Reinaldo Azevedo fez uma lista das derrotas do
Brasil no campo internacional durante o governo Lula. A lista é meio antiga,
tem outras derrotas que não entraram, mas acho que a que vai a seguir já mostra
bem o mico que o Brasil passou no mundo civilizado. Essas derrotas foram mais
atribuídas a Celso Amorim (outro da mesma laia), mas Garcia era quem dava as
ordens e Amorim obedecia. Atentem para o estrago:
NOME PARA A OMC
Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do
Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que
votou no Brasil? O Panamá!!!
OMC DE NOVO
O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não
de Gracie.
NOME PARA O BID
Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só
quatro votaram no Brasil – do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do
Itamaraty, não de Sayad.
ONU
O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho
de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está
justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e
justificados, a Colômbia.
CHINA
O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada,
em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas
permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria
e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócios há
uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…
DITADURAS ÁRABES
Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras
árabes do Oriente Médio.
CÚPULA DE ANÕES
Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América
do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que
vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores
do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância…
No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…
ISRAEL E SUDÃO
A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país
votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano
anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia
genocida, que praticou os massacres de Darfur – mais de 300 mil mortos! Por que
o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão
atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?
FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo
constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a
respeito.
RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre.
Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.
UNESCO
Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio antissemita e potencial
queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar
o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com
o apoio tranquilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um
brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.
HONDURAS
O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma
tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e
democráticas. Lula não reconhece o governo.
AMÉRICA DO SUL
Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de
araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata
como um democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de
Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o
Parlamento… paraguaio! A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade.
E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o
Equador já chegou a sequestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos.
Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana.
Chamam a isso “pragmatismo”.
CUBA, PRESOS E
BANDIDOS
Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente
Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos
comuns do Brasil.
IRÃ, PROTESTOS E
FUTEBOL
Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia
demonstrado suas simpatias por Ahmadinjead e comparado os protestos das
oposições contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo
time perde um jogo.
Como se vê, o vexame foi enorme e Garcia estava por trás de
todos eles. Agora, ele vem a público querer criticar a boa política externa que
José Serra está tentando ressuscitar. Primeiro foi Dilma que falou que o Brasil
agora fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA. Talvez ela tenha se esquecido
que a Bolívia roubou um refinaria inteira da Petrobras e o governo petista nada
fez, aceitando o enorme prejuízo da forma mais covarde possível. Se o PT falava
grosso com os EUA, duvido que os urros tenham chegado a Washington. Talvez nem
tenham alcançado as fronteiras de Goiás.
Depois de Dilma, Garcia disse que está havendo um
retrocesso, que a política de aproximação com o primeiro mundo é antiga e
outras bobagens. Garcia, nas sua ignorância radical, não vê que o Mercosul foi
um fracasso porque ao invés de um acordo econômico, passou a ser um órgão
político e de esquerda. Que o Chile cresceu mais que todos no continente,
porque esnobou o Mercosul e fez acordos bilaterais com países do primeiro
mundo.
Garcia considera que avanço é apoiar ditadores africanos e latino-americanos,
ajudar grupos terroristas islâmicos, se ajoelhar diante da Bolívia, da
Argentina dos Kirchner e lamber o saco de, primeiro Hugo Chávez e, depois,
dessa intragável figura que é Maduro.
Enfim, Garcia é um desses imbecis que um país, se quiser
crescer e ter um papel decente no mundo, tem de isolar. De preferência trancado
nos banheiros da Unicamp que ele usava para guardar documentos do Arquivo Edgar
Leuenroth que ele dirigia, na década de 1980.