Os fins de Dilma, de Cunha, de Lula e do PT ficaram mais
evidentes nesta quinta-feira, com a decisão do ministro Teori Zavascki –
referendada pelo STF por unanimidade – de suspender o mandato e a presidência
do presidente da Câmara. Fecha-se um círculo – embora nele devesse estar também
Renan Calheiros – e agora todos os olhos se voltam para Michel Temer.
Mais que certo presidente da República a partir de
quinta-feira próxima (12 de maio), Temer vem tateando o poder e deve estar
percebendo que pegar a história na mão num país como o Brasil é tarefa muito
mais difícil e complicada do que sonham as ingênuas consciências.
Temer tenta compor um ministério. A demanda da população -
em sua maioria, pelo menos – é a diminuição do número deles. Não se justificam
vários departamentos da República serem alçados à condição de primeiro escalão,
com todos os seus gastos e seus poderes para realizarem tarefas de estafetas. O
país, sem dinheiro para manter a dignidade do povo que precisa do Estado, não
pode se dar ao luxo de oferecer rica estrutura administrativa para anões
políticos que nada fazem, nada resolvem.
Mas Temer precisa de apoio no Congresso e o Congresso tem
mais de algumas dezenas de partidos ali representados. Um ministério para cada
um? Nem pensar. Seu próprio partido - o PMDB – quer talvez meia dúzia deles. O
PP, com algumas dezenas de parlamentares, não se contentará com menos de dois.
Ou três. DEM e PSDB, não querem nada, mas não vão fazer nada se alguns de seus
membros virarem ministros e vão apoiar Temer. Ou não. É o modo tucano de dizer
nem sim nem não, muito pelo contrário, quanto mais principalmente... Eles são
craques nisso. Na verdade, querem sim parte do poder agora, mas que não fique
muito claro que quiseram, para, em 2018, se algo der errado, poderem dizer que
não faziam parte “daquilo” e, assim, reunirem mais chances de eleger um presidente.
Lamentável.
Assim, a diminuição dos ministérios – primeira ação que
apontaria para um governo sério – já está comprometida. Nesse caso, a culpa nem
é totalmente de Temer, já que o “toma-lá-dá-cá” vigente na política brasileira
desde sempre, continua forte e rijo. “Quer apoio? Queremos ministérios!”
Mas a indicação de nomes para a fieira de ministérios que
Temer poderá ter de suportar, aí já é caso pessoal do futuro presidente. Pensar
em um pastor que deve odiar o evolucionismo e pregar o criacionismo em seus
sermões, para o ministério da Ciência e Tecnologia, é dar um tapa na cara de
uma classe que há muito vem sofrendo nas mãos petistas, que são os cientistas todos
do Brasil. Por sinal, uma cientista, fulgurante estrela da constelação
científica, está indo embora exatamente por não ter condições de manter suas pesquisas
por aqui. Faltam verbas, faltam condições, faltam políticas sérias, sobram
politicagens.
E pensar em Roseana Sarney para qualquer cargo num governo
já é uma agressão ao bom senso e à honestidade. Deixar que vaze por aí a ideia
de que ela pode ser ministra da Educação, já extrapola qualquer limite de
insanidade mental.
Considerar que o velho amigo Mariz de Oliveira não era bom
para a Justiça, mas botá-lo na Segurança, também é temerário. E não só porque
ele se manifestou contrario ao impeachment e andou criticando a operação Lava
Jato (o que já é um absurdo). Acontece que a segurança no Brasil é uma das
piores do mundo. Vivemos num país em que morre mais gente assassinada por ano
do que em países em guerra. Sessenta mil assassinatos em 2015 não é um número
de ficção. O Brasil precisa de um plano emergencial para a Segurança e o velho e
bonachão amigo do presidente, que está sendo presenteado com um ministério de
uma área da qual pouco entende, poderá deixar tudo como está, para a desgraça
de milhões de brasileiros.
Parece que a única área que Temer pode estar acertando é a
da economia. Meirelles, que segurou as pontas nos oito nos de Lula, tentando
impedir a farra que depois se soube aconteceu assim mesmo – é um nome forte
que, a depender da equipe que escolher, pode entregar, no início de 2019, um
Brasil melhor para o sucessor de Temer.
Mas a situação atual, embora tenha muita coisa a ser
comemorada – Cunha fora, impeachment de
Dilma quase certo, o PT derretendo por aí, a esquerda enfurecida e sem rumo
como não se via desde a queda do Muro de Berlim – tem também um cenário
preocupante: se Temer não acertar a mão, com nomes fortes e medidas iniciais
que apontem para uma caminhada na direção certa, a oposição ao seu governo pode
crescer e infernizar seu governo a um ponto perto do insuportável. O que,
convenhamos, não será bom nem para as próprias oposições nem para o Brasil. Num
cenário assim, o discurso conservador da volta dos militares pode ganhar muitos
adeptos e se tornar inevitável. O que seria uma tragédia tanto quanto foram os anos
petistas no poder.
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