quinta-feira, 12 de maio de 2016

O fim de um tempo nefasto

O novo logotipo do novo governo: ordem e progresso sem a cor vermelha
Quando assumi a coluna Xeque Mate do Correio Popular, no inicio de 2001, FHC ainda governava o país. Campinas já tinha um governo petista comandado por Antonio da Costa Santos, cuja trajetória, infelizmente, jamais saberemos qual seria. Mas, ao ser convidado para a coluna, avisei o então chefe de redação, Mário Evangelista, que meu estilo era outro, eu não era petista como o colunista que substituiria e costuma ter a mão mais pesada nas críticas. Ele me deu carta branca.

O governo FHC não ia tão bem quanto seu primeiro mandato. Alguns erros na política econômica, principalmente em relação ao câmbio, fizeram com que o desemprego insistisse em ficar elevado e a conjuntura mundial, desfavorável, impediu que o plano de exportações elaborado no fim do primeiro governo, tivesse o sucesso esperado a partir de 1999.

A ferrenha oposição do PT e o pragmatismo de Lula e Zé Dirceu começaram a surtir efeito. A falta de vocação do PSDB para bater nos adversários e mostrar o que tinha feito de bom para o país ajudaram Lula a crescer nas pesquisas. A tudo isso acrescente-se  o pífio  empenho de FHC em apoiar José Serra e o resultado foi a eleição de Lula, que assumiu em 2003.

Eu não acariciava na coluna nenhum governo petista. Se houvera alguma condescendência com Toninho – afinal ele era um cara civilizado, parecia honesto e podia ser considerado um petista light – depois do seus assassinato o governo de Campinas caiu nas mãos do que havia de pior no PT: um grupelho dissidente comandando pelo então deputado estadual Renato Simões que indicou a vice a Toninho, uma subalterna do deputado que pouco entendi a de governo, de política ou de administração, Izalene Tiene. Seu governo – não foi seu, foi de Simões -, acabou se transformando num desastre que poucas vezes Campinas presenciou.

Mas, se o PT ia mal em Campinas, Lula começava a nadar de braçada no plano federal. Eu continuava criticando seu governo na coluna, percebendo que ali se criava um ovo de serpente. Lula, espertamente, manteve a política econômica liberal de FHC e deixou a esquerda tomar conta de outros setores do governo. Começou a financiar milhares de Ongs espalhadas pelo país cujo objetivo maior era apoiar o governo. Distribuiu farta verba para as centrais sindicais, para sindicatos e para a imprensa e, para conquistar apoio da maioria do Congresso, fez o que ninguém acreditava fosse o PT capaz: inaugurou um sistema de corrupção que simplesmente distribuía dinheiro roubado dos cofres públicos aos parlamentares.

O esquema foi descoberto e instaurou-se a primeira grande crise no governo petista: o Mensalão. A crise fez com que ele perdesse seu mais importante ministro, José Dirceu e mais alguns amigos de longa data. Lula, esperto, emendou uma formidável sequência de mentiras para se livrar de uma cassação: disse que foi traído, depois que nada sabia, depois que tudo não passou de caixa dois e, finalmente, disse que quando deixasse o governo iria provar que o Mensalão jamais existiu.

As mentiras e a covardia da oposição – principalmente do PSDB – livraram Lula de ter curta carreira como presidente. No mandato seguinte – a reeleição foi difícil, mas a máquina pública distribuindo dinheiro aos mais pobres do Norte e do Nordeste via Bolsa Família garantiu a vitória – a economia mundial começou a dar sinais de prosperidade e as commodities brasileiras alcançaram ótimos preços. Coma entrada de bilhões de dólares das exportações, o Brasil chegou a crescer 7% durante um ano e Lula atingiu o auge de sua popularidade, o que o fez arrotar “conselhos” para o mundo, expondo, muitas vezes, o Brasil ao ridículo de sua ignorância.

A política externa colecionou inimaginável fieira de derrotas, só sendo bem recebido em ditaduras africanas e sul-americanas, onde o Brasil, mais rico que todas eles, contribuía com milhões de dólares, fosse de perdões de dívidas ou de investimentos via BNDES, em tenebrosas transações com grandes empreiteiras brasileiras.

Já com domínio da máquina e com muito dinheiro para comprar votos, Lula fez a sucessora, a inexpressiva Dilma Rousseff, cuja fama dependia mais de boatos de ser grande gerente e dura na queda, que na realidade de sua performance. Performance, aliás, que se mostrou um desastre total, desde seu primeiro governo.

A crise mundial veio e sem a enxurrada de dólares das exportações, Lula já havia enfrentado enormes dificuldades nos dois últimos anos de seus governo, dificuldades disfarçadas por uma política de distribuição de dinheiro, via financiamentos a empresários escolhidos para dominarem setores ou via renúncia fiscal, para manter preços de veículos e eletrodomésticos no alcance da maioria da população.

Mas nem Lula, nem Dilma em seu primeiro mandato, prepararam o Brasil para enfrentar o segundo momento da crise mundial, aquele em que os países se reacomodam à nova realidade. Esse reacomodação fez com que os que compravam do Brasil passassem a procurar melhores preços e esses melhores preços estavam em países que, durante a crise – e mesmo antes dela – vinham melhorando suas condições de produção, criando infraestrutura para baratear preços e lhes dar poder de competição.

A China passou a comprar menos do Brasil e mais de outros países, o mesmo acontecendo com países europeus e com os Estados Unidos. A política externa brasileira que, por conta de uma ideologia atrasada, escolhia parceiros que nada podiam oferecer ao Brasil (Cuba, Venezuela, Bolívia, Argentina dos Kirchner, ditaduras africanas...), ficou no fim da fila do novo concerto mundial: nossas exportações caíram e não davam mais para sustentar um modelo econômico equivocado. O que se viu então, para tentar preservar o poder (que era o que mais interessava ao PT), foi uma inacreditável maquiagem das contas públicas, para dar a impressão ao país que tudo estava bem, que no Brasil não havia crise, só uma “marolinha” que em nada afetaria o cidadão.

A campanha para a segunda eleição de Dilma foi toda baseada nessa grande mentira. Às mentiras ditas em rede nacional se juntaram os fatos: a presidente havia cometidos graves crimes na contabilidade oficial, crimes esses que a levariam a ser impedida de continuar governando. Um processo de impeachment acabou sendo aprovado por larga maioria na Câmara e no Senado.

Assim, termina a era PT no Brasil. Eu deixei a coluna do Correio em 2007, sem abrir mão das minhas convicções liberais e democráticas. Por não aceitar suborno do governo municipal – de Hélio de Oliveira Santos, que era do PDT, mas aliadíssimo a Lula, que o ajudou a se eleger na primeira eleição e depois jogou algumas centenas de milhões de reais na cidade – acabei perdendo o emprego. Mas mantive a esperança de ver um dia o PT escorraçado do poder, fosse pela via dos voto ou da Justiça.

Seus crimes todos estavam mais que estampados na crônica política do Brasil. Crimes esses que começaram a ser revelados de forma explícita pela Operação Lava Jato que mostrou ao Brasil que o PT comprava parlamentares e enriquecia seus dirigentes e aliados com o dinheiro que roubava da Petrobras. Tanto roubaram que a maior empresa brasileira e uma das maiores do mundo, hoje está praticamente falida, vendendo ativos para sobreviver e devendo na praça quase meio trilhão de reais.

A cassação do mandato de Dilma Rousseff por crime de responsabilidade, que deverá ocorrer ainda neste ano, fecha o ciclo de um partido que nasceu como uma esperança e terminou como uma desgraça para o Brasil.

Está certo que a maioria do povo brasileiro que nele acreditou tinha lá suas razões. Lula sabe discursar para o povão, foi esperto para mentir e se segurar no poder, foi inteligente para manter uma publicidade enganosa durante quase todos esses 13 anos e aproveitou para firmar uma imagem positiva quando a economia mundial favoreceu o Brasil.

Mas a Justiça – via esse bravo juiz Sérgio Moro, talvez o personagem mais importante do Brasil hoje – acabou por desnudar o PT e tirar a máscara de Lula e sua quadrilha.

Hoje o Brasil começa a respirar novos ares, que ainda estarão bastante poluídos pelos venenosos gases petistas, mas que, com o tempo tendem a se dissipar na atmosfera mais leve e mais séria que se pretende e se espera do governo de Michel Temer.

Seu ministério tem mais acertos que erros e ele assume carregando – mais que Collor e mais que Lula – uma enorme esperança de todos os brasileiro de bem. Se errar, a história e os brasileiros que foram às ruas para exigir a saída do PT do poder, não o perdoarão. 

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