O novo logotipo do novo governo: ordem e progresso sem a cor vermelha |
O governo FHC não ia tão bem quanto seu primeiro mandato.
Alguns erros na política econômica, principalmente em relação ao câmbio,
fizeram com que o desemprego insistisse em ficar elevado e a conjuntura
mundial, desfavorável, impediu que o plano de exportações elaborado no fim do primeiro
governo, tivesse o sucesso esperado a partir de 1999.
A ferrenha oposição do PT e o pragmatismo de Lula e Zé
Dirceu começaram a surtir efeito. A falta de vocação do PSDB para bater nos
adversários e mostrar o que tinha feito de bom para o país ajudaram Lula a crescer
nas pesquisas. A tudo isso acrescente-se o pífio empenho de FHC em apoiar José Serra e o resultado
foi a eleição de Lula, que assumiu em 2003.
Eu não acariciava na coluna nenhum governo petista. Se houvera
alguma condescendência com Toninho – afinal ele era um cara civilizado, parecia
honesto e podia ser considerado um petista light – depois do seus assassinato o
governo de Campinas caiu nas mãos do que havia de pior no PT: um grupelho
dissidente comandando pelo então deputado estadual Renato Simões que indicou a
vice a Toninho, uma subalterna do deputado que pouco entendi a de governo, de
política ou de administração, Izalene Tiene. Seu governo – não foi seu, foi de
Simões -, acabou se transformando num desastre que poucas vezes Campinas
presenciou.
Mas, se o PT ia mal em Campinas, Lula começava a nadar de
braçada no plano federal. Eu continuava criticando seu governo na coluna,
percebendo que ali se criava um ovo de serpente. Lula, espertamente, manteve a
política econômica liberal de FHC e deixou a esquerda tomar conta de outros
setores do governo. Começou a financiar milhares de Ongs espalhadas pelo país
cujo objetivo maior era apoiar o governo. Distribuiu farta verba para as centrais
sindicais, para sindicatos e para a imprensa e, para conquistar apoio da
maioria do Congresso, fez o que ninguém acreditava fosse o PT capaz: inaugurou
um sistema de corrupção que simplesmente distribuía dinheiro roubado dos cofres
públicos aos parlamentares.
O esquema foi descoberto e instaurou-se a primeira grande
crise no governo petista: o Mensalão. A crise fez com que ele perdesse seu mais
importante ministro, José Dirceu e mais alguns amigos de longa data. Lula,
esperto, emendou uma formidável sequência de mentiras para se livrar de uma
cassação: disse que foi traído, depois que nada sabia, depois que tudo não
passou de caixa dois e, finalmente, disse que quando deixasse o governo iria
provar que o Mensalão jamais existiu.
As mentiras e a covardia da oposição – principalmente do
PSDB – livraram Lula de ter curta carreira como presidente. No mandato seguinte
– a reeleição foi difícil, mas a máquina pública distribuindo dinheiro aos mais
pobres do Norte e do Nordeste via Bolsa Família garantiu a vitória – a economia
mundial começou a dar sinais de prosperidade e as commodities brasileiras
alcançaram ótimos preços. Coma entrada de bilhões de dólares das exportações, o
Brasil chegou a crescer 7% durante um ano e Lula atingiu o auge de sua
popularidade, o que o fez arrotar “conselhos” para o mundo, expondo, muitas
vezes, o Brasil ao ridículo de sua ignorância.
A política externa colecionou inimaginável fieira de
derrotas, só sendo bem recebido em ditaduras africanas e sul-americanas, onde o
Brasil, mais rico que todas eles, contribuía com milhões de dólares, fosse de
perdões de dívidas ou de investimentos via BNDES, em tenebrosas transações com
grandes empreiteiras brasileiras.
Já com domínio da máquina e com muito dinheiro para comprar
votos, Lula fez a sucessora, a inexpressiva Dilma Rousseff, cuja fama dependia
mais de boatos de ser grande gerente e dura na queda, que na realidade de sua
performance. Performance, aliás, que se mostrou um desastre total, desde seu
primeiro governo.
A crise mundial veio e sem a enxurrada de dólares das
exportações, Lula já havia enfrentado enormes dificuldades nos dois últimos
anos de seus governo, dificuldades disfarçadas por uma política de distribuição
de dinheiro, via financiamentos a empresários escolhidos para dominarem setores
ou via renúncia fiscal, para manter preços de veículos e eletrodomésticos no
alcance da maioria da população.
Mas nem Lula, nem Dilma em seu primeiro mandato, prepararam
o Brasil para enfrentar o segundo momento da crise mundial, aquele em que os
países se reacomodam à nova realidade. Esse reacomodação fez com que os que
compravam do Brasil passassem a procurar melhores preços e esses melhores
preços estavam em países que, durante a crise – e mesmo antes dela – vinham melhorando
suas condições de produção, criando infraestrutura para baratear preços e lhes
dar poder de competição.
A China passou a comprar menos do Brasil e mais de outros
países, o mesmo acontecendo com países europeus e com os Estados Unidos. A
política externa brasileira que, por conta de uma ideologia atrasada, escolhia
parceiros que nada podiam oferecer ao Brasil (Cuba, Venezuela, Bolívia, Argentina
dos Kirchner, ditaduras africanas...), ficou no fim da fila do novo concerto
mundial: nossas exportações caíram e não davam mais para sustentar um modelo
econômico equivocado. O que se viu então, para tentar preservar o poder (que
era o que mais interessava ao PT), foi uma inacreditável maquiagem das contas
públicas, para dar a impressão ao país que tudo estava bem, que no Brasil não havia
crise, só uma “marolinha” que em nada afetaria o cidadão.
A campanha para a segunda eleição de Dilma foi toda baseada
nessa grande mentira. Às mentiras ditas em rede nacional se juntaram os fatos:
a presidente havia cometidos graves crimes na contabilidade oficial, crimes
esses que a levariam a ser impedida de continuar governando. Um processo de impeachment
acabou sendo aprovado por larga maioria na Câmara e no Senado.
Assim, termina a era PT no Brasil. Eu deixei a coluna do
Correio em 2007, sem abrir mão das minhas convicções liberais e democráticas. Por
não aceitar suborno do governo municipal – de Hélio de Oliveira Santos, que era
do PDT, mas aliadíssimo a Lula, que o ajudou a se eleger na primeira eleição e
depois jogou algumas centenas de milhões de reais na cidade – acabei perdendo o
emprego. Mas mantive a esperança de ver um dia o PT escorraçado do poder, fosse
pela via dos voto ou da Justiça.
Seus crimes todos estavam mais que estampados na crônica
política do Brasil. Crimes esses que começaram a ser revelados de forma
explícita pela Operação Lava Jato que mostrou ao Brasil que o PT comprava
parlamentares e enriquecia seus dirigentes e aliados com o dinheiro que roubava
da Petrobras. Tanto roubaram que a maior empresa brasileira e uma das maiores
do mundo, hoje está praticamente falida, vendendo ativos para sobreviver e
devendo na praça quase meio trilhão de reais.
A cassação do mandato de Dilma Rousseff por crime de responsabilidade,
que deverá ocorrer ainda neste ano, fecha o ciclo de um partido que nasceu como
uma esperança e terminou como uma desgraça para o Brasil.
Está certo que a maioria do povo brasileiro que nele
acreditou tinha lá suas razões. Lula sabe discursar para o povão, foi esperto
para mentir e se segurar no poder, foi inteligente para manter uma publicidade
enganosa durante quase todos esses 13 anos e aproveitou para firmar uma imagem
positiva quando a economia mundial favoreceu o Brasil.
Mas a Justiça – via esse bravo juiz Sérgio Moro, talvez o
personagem mais importante do Brasil hoje – acabou por desnudar o PT e tirar a
máscara de Lula e sua quadrilha.
Hoje o Brasil começa a respirar novos ares, que ainda
estarão bastante poluídos pelos venenosos gases petistas, mas que, com o tempo
tendem a se dissipar na atmosfera mais leve e mais séria que se pretende e se
espera do governo de Michel Temer.
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