sábado, 30 de janeiro de 2016

Repórter cidadão?

As redes sociais estão cheias desses anúncios e eles passam também em horário nobre da TV. O nome dado à peça publicitária é “Repórter Cidadão”, e o filme todo é feito como se a pessoa que o apresenta fosse um repórter, ou seja, um profissional da informação. Ele diz que não é, que foi “repórter-cidadão” por um dia ou algo parecido, mas o formato da peça leva à indução de que tudo que se falou ali é a mais pura verdade, já que qualquer defeito que a imagem possa mostrar, será maquiado para que ele desapareça.

Na Rede Globo, quem trabalha no Departamento de Jornalismo não pode fazer publicidade. A emissora não quer que o telespectador confunda as coisas: jornalismo e uma coisa, anúncio publicitário é outra coisa.

Em Campinas, a peça publicitária do governo de Jonas Donizette (PSB) parece querer mostrar uma Campinas que não existe, por isso apela a um formato que parece jornalístico, mas é, na essência, enganador.
Assisti, agora há pouco, um taxista falando das “maravilhas” do trânsito e das obras realizadas. A maioria não passa de obrigação do governo para ordenar o trânsito. Congestionamentos – que acontecem diariamente em inúmeros pontos da cidade – foram totalmente ignorados na “reportagem” e o taxista parece extremamente feliz ao mostrar uma cidade tão limpa quanto o Brasil dos comerciais do PT.

Av. Francisco Glicério buracos na calçada logo após a inauguração
As duas maiores obras mostradas – a da marginal do Piçarrão e a da Avenida Francisco Glicério – estão recebendo várias críticas. Na avenida, a principal do Centro, “revitalizou-se” um trecho de menos de um quilômetro. E há a promessa de iniciar outro trecho em breve. O piso das calçadas, que na propaganda aparece liso e uniforme, é coalhado de tampas de caixas de inspeção. Em dez metros contei sete delas, das mais variadas concessionárias que usam redes de fios de metal e de fibra ótica em seus serviços. E assim é por toda a extensão. As sarjetas, com pouco tempo de uso, já apresentam várias falhas, com as extremidades se esfarelando, quando não quebram ao contato com um pneu ou uma calota. O asfalto já cedeu em alguns locais.

A avenida em si, que teve diminuída uma faixa de rolamento, agora é complicada para o tráfego, no trecho “revitalizado” quase o dia todo. De bom mesmo, só o desaparecimento do horrível emaranhado de fios nos postes. Mas os fios que foram enterrados não representam nem 1% das teias que se ligam nos postes. O Centro inteiro (e muitos bairros também) continua povoado de postes e fios, muitos fios, numa formidável e horrível confusão visual.

Marginal do Piçarrão: a chuva levou o asfalto 3 dias após a inauguração
Já o trecho da marginal do Piçarrão, a propaganda esconde que três dias depois de inaugurado, ele foi levado pelas águas da chuva e teve de ser refeito. Um enorme erro de engenharia, ou seja lá do que for, fez com que as águas não escoassem como deviam e, além de levar o asfalto novo, invadiram as casas, o que não ocorria antes.

Esse é só um exemplo da propaganda enganosa travestida de “reportagem” que o governo de Jonas Donizette está fazendo em toda mídia eletrônica. E em horário nobre, o que deve estar custando uma fortuna aos cofres públicos.

Há muitas outras peças publicitárias iguais. Uma rápida pesquisa nas redes sociais e descobri que já produziram peças do tal “repórter cidadão” sobre a Ceasa, o Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), sobre a coleta mecanizada, sobre a Guarda Municipal e a segurança (o índice de homicídios em Campinas é maior que o do Estado de São Paulo e a peça chama “Campinas Bem Segura”), sobre creches (o déficit ainda de vagas é enorme e cresceu no segundo semestre do ano passado) e muitas outras talvez estejam sendo pensadas e realizadas. Afinal, dinheiro para a propaganda nunca faltou no atual governo de Campinas.

E 2016 é ano eleitoral. Receio que a propaganda travestida de reportagem do governo municipal deve aumentar muito mais. E nós continuaremos pagando. 

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