sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Prédios do Minha Casa Minha Vida em Campinas estão podres

Entregues com toda pompa em 2012, os conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida,  Jardim Bassoli e Residencial Sirius, na região do Campo Grande em Campinas (SP), são hoje um pesadelo para os moradores de baixa renda que adquiriram os apartamentos. Eles foram construídos pela Odebrecht.

Os problemas relacionados à construção já vinham se avolumando, mas, na quarta-feira passada (dia 20) o salão de festas de um dos blocos simplesmente veio abaixo. Por sorte o fato aconteceu à noite de um dia da semana, quando o salão estava vazio. Ali, durante o dia, por exemplo, funciona, ou melhor, funcionava, o Projeto Gente Nova, que cuida de crianças enquanto seus pais estão trabalhando. Imaginem a tragédia se o acidente ocorresse mais cedo. 

E o caso foi simples, denotando péssima engenharia: uma das paredes desabou e o teto veio abaixo. Engenheiros que verificaram os destroços constataram que não havia fundação ou ferragens para sustentar o prédio. Coisa de assassinos mesmo que receberam dinheiro do governo para a obra. E, claro, o governo não autorizou uma obra de engenharia sem fundação ou ferragens que a sustentem. Ou autorizou? Afinal, é a Odebrecht, né?

Mas o absurdo não para aí. Um laudo assinado por três engenheiros da Prefeitura, em agosto do ano passado, afirmava que no Bloco E, onde vivem 160 famílias, “há sinais evidentes de insalubridade, como bolor em paredes, tetos, pisos cerâmicos soltos, sistema de combate a incêndio com peças faltando, erosões nos pisos, ausência de grelhas metálicas sobre as caixas pluviais, riscos de quedas entre outras”.

O engenheiro e arquiteto Eduardo Amorim, que andou vistoriando os prédios, afirmou que os problemas são generalizados: “Não tem projeto de drenagem, então todas as fundações correm o risco de sofrer recalque diferencial (balanceamento da estrutura), não tem drenagem no telhado, falta calha, rufo, toda a proteção do telhado que deveria ter não tem. Então a água desce pelos apartamentos, pela escadaria. Os apartamentos nos primeiros andares estão com umidade ascendente. São coisas básicas que não foram feitas. Pedimos os projetos que foram aprovados na Caixa para ver se houve erro de projeto ou de execução”, salientou.

Segundo reportagem do Correio Popular, no apartamento da auxiliar de limpeza Sônia Aparecida da Silva, de 49 anos, as paredes dos quartos e da cozinha estão tomadas pelo bolor: “Tive que levar minha filha para morar em outro local, pois ela tem problema de respiração e o cheiro estava fazendo muito mal. Além das paredes a água invade todo o apartamento quando chove. Não tem estrutura de calha, um absurdo”, criticou Sônia.

O absurdo chega a tanto que uma moradora, Sônia Aparecida Mariano, síndica do Bloco E, disse: “Antes eu conversava com a minha vizinha no quarto andar, hoje vejo o apartamento do terceiro da minha janela. Estamos afundando”. E acrescenta: “Hoje foi um salão, mas e amanhã? Estamos deitados à noite para dormir e escutamos as paredes rangerem. Na sala, de repente o tapete levanta porque o piso se solta. Nós pagamos e não recebemos nenhuma assistência. A Defesa Civil esteve aqui e pediu para sair do apartamento por que ele tem problemas graves de estrutura. Mas se eu sair ele é invadido. Como eu fico nessa, então?” No Bassoli vivem aproximadamente 8 mil moradores, 300% a mais do que o previsto, segundo a associação de moradores.

Os problemas do Bassoli se estendem também ao Residencial Sirius. Dentro dele, as torres do Campo das Tulipas, com chuvas mais constantes dos últimos meses, mostram que algo muito grave ocorreu durante a construção. Os apartamentos do quarto andar são os que mais apresentam problemas. O síndico Antenor Vicente Ramos mostrou como exemplo o apartamento da dona de casa Raquel de Cássia, de 35 anos. “Tem um vazamento na laje e afundou o teto do meu banheiro, que veio abaixo. Já acionamos a construtora, mas eles verificam a laje e sempre dizem que não tem nada”, reclama.

Na torre 1, uma trinca na parede vai do térreo ao quarto andar. “Estamos fazendo um laudo junto à administradora do condomínio para apresentar imediatamente à Caixa Econômica e à construtora PDG para providências imediatas”, disse Ramos. O empreendimento é destinado a famílias com renda de até R$ 1,6 mil.

Podem ter sido erros de projeto, uso de material inadequado ou de péssima qualidade ou mesmo ausência de etapas previstas em projetos. Isso porque os prédios deveriam ser resistentes à intempéries e não são.

Isso tudo demonstra que há algo de podre nessa história. Afinal, as construtoras receberam financiamentos de centenas de milhões de reais para fazer as obras. Os projetos tiveram que passar por inspeção da Caixa Econômica Federal e as obras devem ter sido acompanhadas por comitês ou comissões compostas para tal fim pelo governo federal, através do Minha Casa Minha Vida. 

Ou nada disso foi feito ou todo mundo fez vista grossa aos absurdos que estavam sendo cometidos. Como o histórico de corrupção e de propinas no governo petista se alastrou por todos os setores da administração, fica no ar uma enorme dúvida sobre a idoneidade dos responsáveis – tanto das construtoras quanto por parte do governo – por essas obras.

Espera-se, claro que as empreiteiras sejam obrigadas a consertar tudo e deixar os prédios em condição de habitação o mais rápido possível. Ou que paguem pesadíssimas multas pelo serviço de porco realizado para que haja recursos para consertar o estrago.

Um comentário:

  1. Empreendimento Odebrecht no Jardim Bassoli estava na relação dos embargos de 2011
    http://blog.individuoacao.org.br/2014/04/empreendimento-odebrecht-no-jardim.html

    Abaeté em Campinas tambem tem irregularidades
    http://blog.individuoacao.org.br/search?q=ginet

    Ação civil pública Ministerio Publico Federal e Estadual
    Réus: Municipio de Campinas/Caixa economica FederAL/Brookfield \centro-oeste empreendimentos imobiliarios S.A/Ginet empreendimentos nimobiliarios Ltda
    Link ação:
    http://www.jfsp.jus.br/assets/Uploads/administrativo/NUCS/decisoes/2014/140804vilaabaete.pdf


    Noticia de hoje 29-4-16 sobre Minha Casa minha vida e Caixa:
    PF combate fraudes de R$ 220 mi em financiamentos imobiliários da Caixa
    http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/pf-combate-fraudes-de-r-220-mi-em-financiamentos-imobiliarios-da-caixa/

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