sábado, 23 de janeiro de 2016

Lamentável

A Folha de S. Paulo parece meio perdida mesmo. A manchete deste sábado da edição impressa é um primor de ato falho, ou, pior, de ignorância mesmo. Está lá no alto da primeira página: “Dilma critica delações sem prova da Lava Jato”.  

A frase, se tivesse sido dita por Dilma, mereceria, no máximo, citação no pé da matéria, porque seria mais uma frase sem nexo com a realidade. O jornal ao registrá-la, poderia avisar o leitor que delação sem prova não existe. O delator conta o caso e o MP e a Polícia Federal têm de provar o que ele disse, caso contrário não entra no processo e o delator pode se dar mal.

E o jornal parece que se arrependeu mesmo da manchete ou alguém deve ter avisado do absurdo. Na edição Online ela não está mais registrada. Tiraram a chamada da entrevista de Dilma da primeira página e só colocaram na editoria de Política (Poder) com o seguinte título: “Lava Jato possui 'pontos fora da curva', mas é necessária, diz Dilma”, o que é completamente diferente da manchete anterior.

E na entrevista Dilma realmente não diz textualmente que há “delações sem prova”. Ela  reclama de interrogatórios baseados no “diz que diz”, demonstrando, mais uma vez, sua ignorância no processo. Talvez ela tenha sido orientada a criticar a Lava Jato, o que é muito difícil, tanto que mais de cem advogados – muitos deles defensores dos acusados nas operações – publicaram um documento criticando a Lava Jato e o máximo que conseguiram foi cair no ridículo, pois ficou cabalmente demonstrado que as investigações não só estão seguindo a lei como suas ações têm sido aprovadas nas instâncias superiores ao do juiz Sérgio Moro.

E ainda mais: talvez percebendo que só atacar o juiz e a operação não seria suficiente – o ataque é eloquente nas palavras, mas fraco em conteúdo – atacaram também a imprensa, como e ela tivesse que esconder as informações que recebe. O documento pareceu mais um ato de desespero dos defensores dos réus, desespero esse proveniente do fato de que eles, com todo o poder que obtiveram em suas carreiras, estão enfrentando, pela primeira vez, um juiz que segue rigorosamente a lei e não se intimida diante de poderosos.

Voltando à entrevista de Dilma à Folha, o jornal registra sua fala assim: “Segundo a presidente, que conversou com a Folha em seu gabinete do Palácio do Planalto, é "impossível" alguém ser questionado [durante os interrogatórios] com base no "diz que me diz".

"Isso que não dá certo. Isso é o mínimo que a gente espera, que quando falarem uma coisa que forem perguntar para uma pessoa, que provem. Porque depois não é verdade e está lascado, né?".

A declaração é uma crítica indireta à forma como alguns depoimentos vêm sendo usados na operação por meio da delação premiada.”

Como se vê, Dilma parece também meio perdida no que diz. Durante os interrogatórios, o MP e o juiz têm de perguntar para o interrogado tudo que eles sabem com base em outros fatos e em outros interrogatórios. Cabe ao interrogado dizer “sim” ou “não” às perguntas. Como pode ser “impossível” alguém ser questionado com base no diz que me diz? A presidente, mais uma vez, disse um desses absurdos comparáveis ao ensacamento do vento.

Talvez seus assessores mais próximos, os que conversam com ela antes de uma entrevista, tenham percebido – e talvez ela também – que não há o que fazer a não ser municiar a militância com um discurso mentiroso para ser replicado na imprensa “amiga” e nos blogueiros sujos, aqueles que recebem recursos do governo para babar diante de Lula. 

Quem sabe a mentira repetida milhões de vezes se transforme em pressão ao que conduzem a Lava Jato, o que, espero que jamais aconteça. 

Um comentário:

  1. Por essas e outras que não assino mais esse jornaleco... E olha, que vira e mexe, me ligam pedindo prá voltar! Nem a pau, Juvenal!!!

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