Duas notícias locais, completamente diferentes, neste fim de
semana natalino mostram a indigência política e cultural do Brasil.
A primeira delas é o estrago que uma chuva mais forte causou
em obra realizada pela Prefeitura de Campinas e inaugurada há três dias. Foi a
complementação das marginais do córrego Piçarrão, alardeada a quatro ventos com
propaganda em todas as mídias possíveis e com show de sambista paulistana no
dia da “inauguração”, gastando rios de dinheiro para anunciar o que não passa
de obrigação de um prefeito: realizar obras para melhorar a vida da população
que lhe paga o polpudo salário.
A chuva foi forte, diga-se. Choveu em menos de uma hora o
equivalente a um mês chuvoso. Mas, caramba!, dezenas de ruas e avenidas de
Campinas muito mais antigas também sofreram com as enxurradas e se mantiveram
firmes. Então por que um enorme trecho da nova obra se desfez e a água da chuva,
que antes se limitava a tornar a rua intransitável também invadiu casas,
destruindo eletrodomésticos e deixando um rastro de lama?
Pela reportagem que EPTV exibiu hoje percebem-se dois motivos:
a obra foi mesmo mal feita e o projeto não levou em conta fatores básicos de
desníveis de terreno e possíveis barreiras para o escoamento da água. Não
podemos esquecer que a região é campeã de enchentes e as obras, que começaram
há 30 anos, foram realizadas principalmente para acabar com esse problema.
Se o problema não só continuou como piorou – uma dona de
casa disse que, antes da obra, para chegar em casa, ela andava na lama e que,
agora, a lama está dentro da casa dela – há culpas a serem averiguadas. E a
principal delas já se sabe: desde o início, em 2013, o governo de Jonas
Donizette vem se notabilizando pela maquiagem que faz na cidade (tal qual seu
antecessor Hélio de Oliveira) e pelos imensos recursos que gasta em publicidade.
Ora, um governo assim, que prioriza a casca e deixa o
conteúdo ao “deus dará”, não pode querer gastar muito em obras que exigem
material de primeira, compactação efetiva do solo, diminuição do nível das ruas
para que as casas não fiquem rebaixadas e muitos estudos para que a obra não
seja levada pela primeira enxurrada mais forte.
Mas esse é o governo de Jonas Donizette: cosmético ao
extremo, preocupado com a exposição positiva na “mídia” e com a campanha de reeleição.
Reeleição, aliás, que pode estar ficando cada vez mais distante a continuar
esse desleixo para com a coisa pública e esse descaso para com as necessidades
básicas da população.
A outra notícia é a que mostra a indigência cultural. Fico
sabendo, pelo Correio Popular, que o Casarão de Barão Geraldo, um local de apresentações
artísticas, vai receber uma verba de R$ 50 mil do governo federal, premiado que
foi num desses editais que sustentam iniciativas, vá lá, culturais, pelo Brasil
afora.
A reportagem informa que o prédio do Casarão é cedido pela
Prefeitura que arca também os salários de duas funcionárias e o pagamento das
despesas de água, luz e telefone. Ali são realizados eventos artísticos, mas a
entrada é franca e é pedida uma contribuição espontânea ao público.
Eu gostaria de saber por que não cobram ingresso normalmente?
Afinal, é assim que artistas devem se sustentar: vendendo sua arte para sobreviver.
Se muita gente gostar dela, eles vão ganhar um bom dinheiro e viver muito bem.
Se poucos gostarem, viverão não tão bem e se ninguém gostar, é melhor procurarem
outro ofício para não morrer de fome.
A cobrança de ingressos definiria se a arte ali apresentada
merece continuar ou não. Se o publico comparecer em massa, o grupo que ali
trabalha deixará de ser dependente das tetas do governo.
O que me intriga nesse campo é por que, no Brasil, artista
que não faz sucesso acha que o povo deve sustentá-lo gostando ou não da arte
que faz? Aliás, mesmo nem sabendo da existência de muitos grupos artísticos por
aí, todo cidadão que trabalha e paga impostos está ajudando a sustentá-los,
através de editais públicos ou de leis de renúncia fiscal em prol de algum
projeto cultural. Não acho correto que sustentemos que poderia pelo menos
tentar viver da própria arte.
Além de acabar pagando mais um imposto com esses mecanismos,
a gente ainda vê artistas ficando viciados nessa história. Tão viciados que,
quando fazem sucesso, bajulam governos corruptos e imorais para serem agraciados
com os benefícios da Lei Rouanet e similares. Num país carente como o Brasil,
com tanto governante corrupto, artista que mama nas tetas oficiais deveria ser
chamado de outro nome, nunca de "artista".
Tomando em conta os renomados artistas que a prefeitura contratou: Neguinho da Beija Flor R$ 70mil (1 apresentação), pianista Sônia Rubynski + maestro Jamil Maluf R$ 11 mil (2 apresentações), maestro mexicano Enrique Diemecke R$ 39,5 mil (2 concertos), Núcleo Interdisciplinar de Narradores e Agentes Culturais, apresentações do espetáculo “Burrico de Pau” para homenagear o Maestro Antonio Carlos Gomes R$ 24 mil (10 apresentações), Espetáculo Quebra Nozes R$ 45 mil (3 apresentações). Soma-se a isto as despesas com sonorização, palco e iluminação, alimentação, banheiros químicos, etc.... Notas que: 1) a esposa do prefeito é artista da musica clássica; 2) o secretário de cultura é orientador acadêmico da esposa do prefeito na Unicamp.
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