sábado, 26 de dezembro de 2015

Indigência política e cultural em Campinas

Duas notícias locais, completamente diferentes, neste fim de semana natalino mostram a indigência política e cultural do Brasil.

A primeira delas é o estrago que uma chuva mais forte causou em obra realizada pela Prefeitura de Campinas e inaugurada há três dias. Foi a complementação das marginais do córrego Piçarrão, alardeada a quatro ventos com propaganda em todas as mídias possíveis e com show de sambista paulistana no dia da “inauguração”, gastando rios de dinheiro para anunciar o que não passa de obrigação de um prefeito: realizar obras para melhorar a vida da população que lhe paga o polpudo salário.

A chuva foi forte, diga-se. Choveu em menos de uma hora o equivalente a um mês chuvoso. Mas, caramba!, dezenas de ruas e avenidas de Campinas muito mais antigas também sofreram com as enxurradas e se mantiveram firmes. Então por que um enorme trecho da nova obra se desfez e a água da chuva, que antes se limitava a tornar a rua intransitável também invadiu casas, destruindo eletrodomésticos e deixando um rastro de lama?

Pela reportagem que EPTV exibiu hoje percebem-se dois motivos: a obra foi mesmo mal feita e o projeto não levou em conta fatores básicos de desníveis de terreno e possíveis barreiras para o escoamento da água. Não podemos esquecer que a região é campeã de enchentes e as obras, que começaram há 30 anos, foram realizadas principalmente para acabar com esse problema.

Se o problema não só continuou como piorou – uma dona de casa disse que, antes da obra, para chegar em casa, ela andava na lama e que, agora, a lama está dentro da casa dela – há culpas a serem averiguadas. E a principal delas já se sabe: desde o início, em 2013, o governo de Jonas Donizette vem se notabilizando pela maquiagem que faz na cidade (tal qual seu antecessor Hélio de Oliveira) e pelos imensos recursos que gasta em publicidade. 

Ora, um governo assim, que prioriza a casca e deixa o conteúdo ao “deus dará”, não pode querer gastar muito em obras que exigem material de primeira, compactação efetiva do solo, diminuição do nível das ruas para que as casas não fiquem rebaixadas e muitos estudos para que a obra não seja levada pela primeira enxurrada mais forte.

Mas esse é o governo de Jonas Donizette: cosmético ao extremo, preocupado com a exposição positiva na “mídia” e com a campanha de reeleição. Reeleição, aliás, que pode estar ficando cada vez mais distante a continuar esse desleixo para com a coisa pública e esse descaso para com as necessidades básicas da população.

A outra notícia é a que mostra a indigência cultural. Fico sabendo, pelo Correio Popular, que o Casarão de Barão Geraldo, um local de apresentações artísticas, vai receber uma verba de R$ 50 mil do governo federal, premiado que foi num desses editais que sustentam iniciativas, vá lá, culturais, pelo Brasil afora.

A reportagem informa que o prédio do Casarão é cedido pela Prefeitura que arca também os salários de duas funcionárias e o pagamento das despesas de água, luz e telefone. Ali são realizados eventos artísticos, mas a entrada é franca e é pedida uma contribuição espontânea ao público.

Eu gostaria de saber por que não cobram ingresso normalmente? Afinal, é assim que artistas devem se sustentar: vendendo sua arte para sobreviver. Se muita gente gostar dela, eles vão ganhar um bom dinheiro e viver muito bem. Se poucos gostarem, viverão não tão bem e se ninguém gostar, é melhor procurarem outro ofício para não morrer de fome.

A cobrança de ingressos definiria se a arte ali apresentada merece continuar ou não. Se o publico comparecer em massa, o grupo que ali trabalha deixará de ser dependente das tetas do governo.

O que me intriga nesse campo é por que, no Brasil, artista que não faz sucesso acha que o povo deve sustentá-lo gostando ou não da arte que faz? Aliás, mesmo nem sabendo da existência de muitos grupos artísticos por aí, todo cidadão que trabalha e paga impostos está ajudando a sustentá-los, através de editais públicos ou de leis de renúncia fiscal em prol de algum projeto cultural. Não acho correto que sustentemos que poderia pelo menos tentar viver da própria arte.

Além de acabar pagando mais um imposto com esses mecanismos, a gente ainda vê artistas ficando viciados nessa história. Tão viciados que, quando fazem sucesso, bajulam governos corruptos e imorais para serem agraciados com os benefícios da Lei Rouanet e similares. Num país carente como o Brasil, com tanto governante corrupto, artista que mama nas tetas oficiais deveria ser chamado de outro nome, nunca de "artista".

Um comentário:

  1. Tomando em conta os renomados artistas que a prefeitura contratou: Neguinho da Beija Flor R$ 70mil (1 apresentação), pianista Sônia Rubynski + maestro Jamil Maluf R$ 11 mil (2 apresentações), maestro mexicano Enrique Diemecke R$ 39,5 mil (2 concertos), Núcleo Interdisciplinar de Narradores e Agentes Culturais, apresentações do espetáculo “Burrico de Pau” para homenagear o Maestro Antonio Carlos Gomes R$ 24 mil (10 apresentações), Espetáculo Quebra Nozes R$ 45 mil (3 apresentações). Soma-se a isto as despesas com sonorização, palco e iluminação, alimentação, banheiros químicos, etc.... Notas que: 1) a esposa do prefeito é artista da musica clássica; 2) o secretário de cultura é orientador acadêmico da esposa do prefeito na Unicamp.

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