sábado, 19 de dezembro de 2015

Campinas descarta combate moderno ao mosquito da dengue

Por que a Prefeitura de Campinas descartaria um método de combate ao mosquito Aedes aegypt que tem mostrado eficiência onde é aplicado e custa bem menos do que os que estão sendo colocados em prática há mais de 10 anos na cidade e que redundaram em fracasso total?

Afinal, Campinas é recordista no número de casos da dengue, doença transmitida pelo mosquito, com mais de 65 mil casos este ano, quebrando, por dois anos seguidos, os tristes recordes que a cidade pensou que jamais fossem ultrapassados. E, agora, com a descoberta de que o mosquito também transmite vírus de outras doenças, a situação em Campinas pode piorar e muito.

Não podemos esquecer que o próprio secretário da Saúde, no meio deste ano, disse que a situação iria piorar em 2016, praticamente entregando os pontos na batalha contra o mosquito, realizada até aqui por métodos tradicionais sem qualquer resultado prático.  

Além disso, é notória a situação financeira do município: os cofres estão mais combalidos que nunca por conta da péssima administração do dinheiro público: há décadas a maior parte do orçamento é para pagar funcionários e o quadro só aumenta ano a ano; os juros das dívidas contraídas comem um bom naco dos impostos e a máquina municipal, com secretarias e cargos demais para acomodar aliados políticos, consome cada vez mais dinheiro público. A essa situação de incompetência soma-se a crise geral imposta pelo governo petista ao Brasil: inflação crescente, PIB negativo, arrecadação diminuindo e corrupção correndo solta, resultado da farra na economia que o PT vem fazendo desde 2003.

Ora, se a situação é tão ruim, se Campinas é notícia internacional pelo número de doentes, de criadouros e de mosquitos transmissores, qual seria o motivo de o governo do prefeito Jonas Donizette (PSB) descartar, mesmo antes do aprofundamento da discussão, um método já adotado em outras cidades e que tem se mostrado eficiente?

O método é a criação de um mosquito macho transgênico (ou seja modificado geneticamente) que, ao cruzar com a fêmea, faz com que ela procrie insetos de vida curta, o que causará, no médio prazo, a erradicação do Aedes aegypt onde a técnica estiver sendo aplicada.

Esse método, explicam os pesquisadores em reportagem do Correio Popular deste sábado, tem resultados positivos no Nordeste, nos municípios de Juazeiro, em Pernambuco e Jacobina, na Bahia; e o mais recente, em Piracicaba. “Trata- se de um estudo com genética avançada, que tem diminuído em até 96% as populações de mosquitos da dengue onde foi utilizada. O Aedes modificado é liberado no ambiente e cruza com as fêmeas selvagens. Seus descendentes morrem antes de chegar à fase adulta, diminuindo a população das próximas gerações”, explica Glen Slade, diretor da Oxitec, empresa responsável pela experiência. 

De acordo com ele, os mosquitos nascem com uma proteína que impede o desenvolvimento, assim como uma outra substância para que sejam identificados e consigam mapear os resultados. Em Piracicaba, 60% dos mosquitos já estão nascendo com esses genes. “Com o controle do mosquito, os órgãos públicos vão economizar muito em relação aos gastos que têm com pacientes, exames e também com as ações de controle”, relata.

A desculpa para não aceitar a implantação por aqui do novo método, foi que ele ainda não tem evidência fortes o suficiente de sua eficácia. Ora, já há resultados positivos em três cidades, a economia que se fará com a forte diminuição dos insetos é enorme e, como se tudo isso não bastasse, os detalhes sobre a nova tecnologia foram apresentados pelos especialistas Sofia Bastos Pinto, PhD em Biologia Molecular pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, Guilherme Trivellato, biólogo, mestre em Entomologia pela Esalq/USP e o biólogo Cláudio Fernandes. Ou seja, não é uma experiência de fundo de quintal, há pesquisadores graduados e sérios por trás dela.

Então a única conclusão que se pode chegar para que a Prefeitura de Campinas não adote o novo método é política.

Como se sabe, o vereador Artur Orsi (PSDB) é quem está divulgando esse novo método para combater a praga do mosquito. E ele é adversário político do prefeito Donizette. Desde os primeiros momentos do atual governo, ao perceber irregularidades – denunciadas na Câmara e na imprensa – o vereador se tornou oposição, mesmo seu partido participando do governo e da base aliada na no Legislativo.

Na reportagem do Correio, Orsi diz que é importante dar atenção a todos os tipos de ferramentas que ajudem nessa luta. “Campinas viveu uma grande epidemia neste ano, com mais de 65 mil casos da doença. Por isso, qualquer alternativa merece atenção para ajudar no combate ao Aedes aegypt.”

Mas, para Donizette, parece ser mais importante não deixar um adversário aparecer do que tirar Campinas do topo dos casos de dengue no país. A população que se vire com a doença – ou com as doenças – desde que um potencial adversário nas próximas eleições não lidere uma ação que possa trazer muitos benefícios à saúde dos cidadãos e economia aos cofres públicos.

É a isso que o povo de Campinas está submetido: um governo que coloca interesses pessoais do prefeito acima dos interesses gerais da população. Pobre Campinas. 

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