Por que a Prefeitura de Campinas descartaria um método de
combate ao mosquito Aedes aegypt que tem mostrado eficiência onde é aplicado e
custa bem menos do que os que estão sendo colocados em prática há mais de 10
anos na cidade e que redundaram em fracasso total?
Afinal, Campinas é recordista no número de casos da dengue,
doença transmitida pelo mosquito, com mais de 65 mil casos este ano, quebrando,
por dois anos seguidos, os tristes recordes que a cidade pensou que jamais
fossem ultrapassados. E, agora, com a descoberta de que o mosquito também
transmite vírus de outras doenças, a situação em Campinas pode piorar e muito.
Não podemos esquecer que o próprio secretário da Saúde, no
meio deste ano, disse que a situação iria piorar em 2016, praticamente
entregando os pontos na batalha contra o mosquito, realizada até aqui por
métodos tradicionais sem qualquer resultado prático.
Além disso, é notória a situação financeira do município: os
cofres estão mais combalidos que nunca por conta da péssima administração do
dinheiro público: há décadas a maior parte do orçamento é para pagar
funcionários e o quadro só aumenta ano a ano; os juros das dívidas contraídas
comem um bom naco dos impostos e a máquina municipal, com secretarias e cargos demais
para acomodar aliados políticos, consome cada vez mais dinheiro público. A essa
situação de incompetência soma-se a crise geral imposta pelo governo petista ao
Brasil: inflação crescente, PIB negativo, arrecadação diminuindo e corrupção
correndo solta, resultado da farra na economia que o PT vem fazendo desde 2003.
Ora, se a situação é tão ruim, se Campinas é notícia
internacional pelo número de doentes, de criadouros e de mosquitos
transmissores, qual seria o motivo de o governo do prefeito Jonas Donizette
(PSB) descartar, mesmo antes do aprofundamento da discussão, um método já
adotado em outras cidades e que tem se mostrado eficiente?
O método é a criação de um mosquito macho transgênico (ou
seja modificado geneticamente) que, ao cruzar com a fêmea, faz com que ela
procrie insetos de vida curta, o que causará, no médio prazo, a erradicação do Aedes aegypt onde a técnica estiver sendo aplicada.
Esse método, explicam os pesquisadores em reportagem do
Correio Popular deste sábado, tem resultados positivos no Nordeste, nos municípios
de Juazeiro, em Pernambuco e Jacobina, na Bahia; e o mais recente, em
Piracicaba. “Trata- se de um estudo com genética avançada, que tem diminuído em
até 96% as populações de mosquitos da dengue onde foi utilizada. O Aedes modificado
é liberado no ambiente e cruza com as fêmeas selvagens. Seus descendentes morrem
antes de chegar à fase adulta, diminuindo a população das próximas gerações”, explica
Glen Slade, diretor da Oxitec, empresa responsável pela experiência.
De acordo com
ele, os mosquitos nascem com uma proteína que impede o desenvolvimento, assim
como uma outra substância para que sejam identificados e consigam mapear os resultados.
Em Piracicaba, 60% dos mosquitos já estão nascendo com esses genes. “Com o
controle do mosquito, os órgãos públicos vão economizar muito em relação aos
gastos que têm com pacientes, exames e também com as ações de controle”,
relata.
A desculpa para não aceitar a implantação por aqui do novo
método, foi que ele ainda não tem evidência fortes o suficiente de sua eficácia.
Ora, já há resultados positivos em três cidades, a economia que se fará com a
forte diminuição dos insetos é enorme e, como se tudo isso não bastasse, os
detalhes sobre a nova tecnologia foram apresentados pelos especialistas Sofia Bastos
Pinto, PhD em Biologia Molecular pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, Guilherme
Trivellato, biólogo, mestre em Entomologia pela Esalq/USP e o biólogo Cláudio
Fernandes. Ou seja, não é uma experiência de fundo de quintal, há pesquisadores
graduados e sérios por trás dela.
Então a única conclusão que se pode chegar para que a
Prefeitura de Campinas não adote o novo método é política.
Como se sabe, o vereador Artur Orsi (PSDB) é quem está divulgando
esse novo método para combater a praga do mosquito. E ele é adversário político
do prefeito Donizette. Desde os primeiros momentos do atual governo, ao
perceber irregularidades – denunciadas na Câmara e na imprensa – o vereador se
tornou oposição, mesmo seu partido participando do governo e da base aliada na
no Legislativo.
Na reportagem do Correio, Orsi diz que é importante dar
atenção a todos os tipos de ferramentas que ajudem nessa luta. “Campinas viveu
uma grande epidemia neste ano, com mais de 65 mil casos da doença. Por isso,
qualquer alternativa merece atenção para ajudar no combate ao Aedes aegypt.”
Mas, para Donizette, parece ser mais importante não deixar
um adversário aparecer do que tirar Campinas do topo dos casos de dengue no
país. A população que se vire com a doença – ou com as doenças – desde que um
potencial adversário nas próximas eleições não lidere uma ação que possa trazer
muitos benefícios à saúde dos cidadãos e economia aos cofres públicos.
É a isso que o povo de Campinas está submetido: um governo
que coloca interesses pessoais do prefeito acima dos interesses gerais da
população. Pobre Campinas.
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