Fui fã de Chico Buarque. Quem da minha geração e que
entendia um pouco de política e desprezava ditaduras não foi? Sabia de cor a
maioria de suas músicas, aguardava ansioso seu novo disco, tive em mãos a
trilha sonora de “Calabar” que havia acabado de sair e cuja capa foi proibida e
o disco recolhido no dia seguinte. Arrependi-me
de não ter comprado. Acabei comprando a versão seguinte, todo branco e com um “Chico
Canta” escrito na capa.
Assisti a dois shows dele. Um na Unicamp, ginásio lotado,
ganhei os ingressos para assistir nas cadeiras, primeiras fileiras. Saí como se
tivesse presenciado um momento histórico. O segundo foi em São Paulo, numa casa
de shows com mesas e serviços. Assisti tomando vinho e comendo queijos. Não
gostei do espetáculo. Foi um Chico lado B que se recusava a fazer como grandes
artistas fazem em shows em fim de carreira: brindam o público com seus grandes
sucessos mesclado das músicas novas.
Chico engatou uma fieira de músicas novas, desconhecias e sem aqueles
apelos costumeiros que costumava grudar nos ouvidos à primeira audição. Escrevi
uma croniqueta na revista Metrópole, onde mantinha coluna domingueira e tasquei
de título “Chico pro gasto”. Era isso, um show que era uma espécie de anticlímax:
todo mundo esperava ouvir aquela música que queria cantar junto e ele vinha de
estranhos amores que o público nunca tinha frequentado. Detalhe: o show
aconteceu já no governo Lula e aquele Chico não era mais o mesmo que havia
criado a trilha sonora da geração que não gostava da ditadura que nos oprimia.
Tudo bem, o Chico tinha um passado que ninguém poderia negar
e deixei isso claro no texto que escrevi malhando o show. Mas o presente que
vivíamos exigia um Chico atento às mazelas, que percebesse que o que estava
acontecendo no Brasil não era o que se poderia chamar de governo voltado ao
povo. Havia uma quadrilha no poder realizando “tenebrosas transações” e isso
estava claro pra qualquer pessoa medianamente inteligente.
Mas Chico foi mais um daqueles velhos esquerdistas que
insistem em dizer que a ditadura de direita é opressiva e a ditadura de
esquerda é democrática. E ele não tem esse direito. Não tem porque é
inteligente e importante. Outros artistas inteligentes e importantes também não
têm esse direito, vamos deixar claros. Se Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros
do mesmo naipe (não falo dos globais que apoiam o lulopetismo porque parece que
lhes falta um mínimo de inteligência) apoiam esse descalabro eleito pelo povo
enganado pela propaganda e pela esmola social eles não estão querendo outra coisa
que não seja perpetuar a miséria, a pobreza, o fascismo de esquerda e a infelicidade
geral da nação.
É duro para alguém como eu, que começou a entender a política
brasileira em plena ditadura militar e que teve na geração de artistas que
brotaram nos anos 1960 verdadeiros baluartes na luta contra a opressão,
escrever que Chico, Caetano e Gil não passam hoje de velhos milionários
acomodados em suas ideologias atrasadas, retrógradas e discricionárias, que
desgraçaram inúmeros países pelo mundo afora e foram responsáveis por algumas centenas
de milhões de mortes por “crimes de opinião”.
O PT hoje é uma mistura dessa ideologia atrasada e violenta acrescido
da sacanagem explícita de roubar o dinheiro dos impostos e se manter na poder a
qualquer custo. Não dá pra definir o que estão fazendo com o Brasil em outras
palavras.
Chico Buarque, principalmente, não pode ter ficado burro e
cego. Se apoia esse governo – cujos dirigentes, se
a lei funcionar, o que é raro no Brasil, deverão apodrecer na cadeia – merece sim
ser questionado na rua, no restaurante, no boteco ou na praia. Ele é importante
e sua opinião também. Se escolheu o lado que desgraça o povo brasileiro tem de
responder por isso. Abandonar os princípios que o nortearam (e nos nortearam
também) durante os anos de chumbo da ditadura tem seu preço. E ele está sendo cobrado
como todos que apoiam essa desgraça fechando os olhos para o mar de lama que
envolve o governo brasileiro. Não dá pra perdoar, por mais que gostemos de sua
obra musical.
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