segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Sacana e desonesto

O PT não tem jeito mesmo. Inconformado com a necessidade de adotar medidas que, embora tenham ajudado, desde 1994, o Brasil a chegar à situação que chegou ao ápice durante o governo Lula, não constam de seu ideário ideológico, o partido divulga documento em que critica seriamente as medidas adotadas pela presidente Dilma Rousseff na sua tentativa de rearranjar a economia. Economia essa, diga-se, estragada por ela mesma.

A situação se torna mais curiosa ainda ao se constatar que a situação só chegou ao ponto que chegou porque as medidas que agora o PT divulga como necessárias – que são opostas ao, digamos, Plano Levy – são praticamente as mesmas que levaram o país à beira da falência.

O único mérito no documento é mostrar que boa parte do PT se mantém fiel ao seu projeto de destruição do insípido capitalismo brasileiro, o que quase foi conseguido com o inacreditável Guido Mantega no comando da economia e com o PT de Dilma no comando do país.

E não é mera coincidência que o documento parte de uma entidade petista comandada pelo economista Márcio Pochmann, cria da Unicamp, cujo Instituto de Economia é dominado pela esquerda que tem no desenvolvimentismo e clientelismo à custa do Estado o norte para suas elucubrações. Não se entregam jamais às gigantescas evidências mundiais que esse modelito jamais serviu a país algum.

Segundo reportagem publicada na Folha, hoje, o texto começa com uma visão que, digo eu, é totalmente errada da crise brasileira. Pois o texto assinala que “as iniciativas do governo estão jogando o país em uma recessão e que elas interessam a banqueiros e a fundos de investimento.”

Ora, o que jogou o Brasil numa recessão não foram as medidas tomadas agora e sim a farra que começou no segundo governo Lula (encoberta pelo grande fluxo de capital que por aqui aportou oriundo das exportações) e prosseguiu no governo Dilma. Nessa segunda fase, a farra precisou ser encoberta pelos malabarismos contábeis patrocinados por Mantega, pelas pedaladas fiscais e pela mentira em rede nacional, a cargo de João Santana. O que se tem agora é a necessidade de consertar o estrago e não a causa da recessão.

Ao assinalar que as medidas atuais interessam a banqueiros e fundos de investimento, os signatários do documento se esquecem de que eles já vêm lucrando há anos nos governo petistas, com os bancos batendo recordes com seus lucros que ultrapassam  2 bilhões de reais por trimestre.

Ora, um documento que nas primeiras linhas expõe duas premissas erradas só poderá ser completado com remédios totalmente equivocados para as doenças crônicas que a economia do Brasil sofre. Obviamente, não vai atacar o cerne da questão, que é a falta de credibilidade, a insistência em manter uma paquidérmica e caríssima máquina governista e a corrupção que se alastrou de forma inacreditável no governo petista.

Depois de passear pelas teorias expostas inicialmente, e cometer os erros costumeiros numa análise que começou errada, o documento entra no campo político repetindo um mantra totalmente desonesto do PT, afirmando que “o pacote fiscal deteriora o ambiente econômico e social, o que enfraquece o governo e amplifica a crise política e as ações antidemocráticas e golpistas em curso".

Na verdade, o pacote fiscal tenta, isto sim, fortalecer a base do ambiente econômico, mas sofre restrições pela falta de confiança no governo. E, definitivamente não, não há ações antidemocráticas nem tampouco golpistas em curso. A oposição que, aliás, anda meio perdida, tem tomado o maior cuidado pra fazer tudo dentro da lei, dentro da Constituição, justamente para não ser acusada de golpista.

Mas para o PT, qualquer ação que que não for no sentido de manter o poder em suas mãos, é chamado, de forma desonesta, de golpe. É até desnecessário aqui citar o impeachment de Collor e os inúmeros pedidos de impeachment que o PT patrocinou contra todos – sim todos! – os presidentes eleitos depois da ditadura militar, prática que só cessou em 2003, quando Lula tomou posse.

No campo das sugestões, os signatários do documento parecem não estar satisfeitos com a crise brasileira e querem ampliá-la, pois recomendam os mesmos remédios que a causaram. Diz o texto que entre as ações para "retirar o país da desastrada austeridade econômica em curso estão a baixa dos juros, a retirada dos investimentos do cálculo de superávit primário, a alteração do calendário do regime de metas de inflação e a regulação do mercado de câmbio.”

Ora, querem que o país pratique juros baixos o que espantará a atração de capitais necessários para financiar o país e pagar as dívidas em títulos públicos. Sem eles, seria o tal do calote, com o país se fechando para o mundo, com as conhecidas e tenebrosas consequências. Outra medida sugerida e que provocaria calote é não economizar o dinheiro destinado a investimentos, retirando-o do cálculo para o superávit primário.

Já a mudança das metas de inflação, que garantem que os preços não disparem no mercado, seria um desastre para os consumidores de baixa renda. Já a regulação do mercado de câmbio, provavelmente comprimiria o dólar artificialmente, fazendo com que o real alcançasse um falso valor, provocando o câmbio paralelo muito mais elevado e aumentando os preços do mesmo jeito.

Enfim, a Fundação Perseu Abramo, que assina o documento, parece querer que tudo continue como estava, com o Brasil caminhando célere para um fortalecimento do Estado que desaguaria num autoritarismo econômico e isolamento mundial, cujas consequências são bem conhecidas em países socialistas e, mais precisamente, no desastre que vem causando na Venezuela, onde gêneros de primeira necessidade já faltam em todo o país e a população trava uma guerra diária para consegui-los.

Assim, o PT que colocou o Brasil na crise, agora critica as medidas tomadas para tentar sair dela, tomadas pelo governo eleito pelo próprio PT. Mais sacana e mais desonesto é impossível.

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