O ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras,
Murilo Ferreira, numa entrevista após pedir licença (para não mais voltar) do
cargo, disse, mostrando ao repórter um cartão parecido com os de crédito: “Veja
esse cartão. Com ele eu compro, em qualquer farmácia do Brasil, qualquer
remédio, na quantidade que eu quiser e, por mais caro que seja, pago apenas quinze
reais. A diferença a Petrobras paga. Nenhuma empresa do mundo faz isso”.
Esse é apenas um detalhe dos “benefícios” que a força dos sindicatos
petroleiros impõe ao Brasil. Sim, ao Brasil, porque o custo dos remédios dos
petroleiros que têm o cartão é pago com o preço dos produtos que a Petrobras
comercializa. Ou seja, quando você abastece seu carro, parte do que você paga
está pagando o remédio do funcionário da Petrobras que, quase com certeza, tem
um salário muito maior que o seu.
Ainda no tempo da ditadura, eu era repórter não me lembro
mais de onde e, ao entrevistar um deputado da oposição, ele me dizia ser inacreditável
que os petroleiros que trabalhavam no centro da cidade, nos escritórios da
Petrobras, recebiam uma quantia a mais nos salários por “insalubridade” ou “periculosidade”, que era
paga aos funcionários que trabalhavam nas refinarias. Não sei se o “abono” ainda
existe para todos, mas ao saber do cartão da farmácia, eu não duvido que o
funcionário que trabalha na sala com ar condicionado no centro de São Paulo ou
do Rio tenha lá seu salário bastante aumentado por conta do acrescido de “riscos”
à saúde ou à segurança.
O cartão e os benefícios irregulares são aspectos de duas
eras diferentes no Brasil, mas que se assemelham em vários momentos. A ditadura
que era estatizante, com grande maioria no Congresso e com leis e decretos ditatoriais
à mão, podendo calar quem se opusesse, perdeu a grande chance de transformar o
Brasil numa potência. Bastava privatizar as estatais todas, sem temer o capital
transnacional (para usar uma palavra da época) e abrir o país, abolindo as estratosféricas
taxas de importação (400% no mínimo) e teríamos o mundo voltado pra nós. A
indústria cresceria (inclusive a nacional, por força da competição), o campo
mostraria sua força (como tem mostrado, aliás) os investidores todos colocariam
dinheiro no Brasil, pois obteriam bons lucros e a ditadura poderia entregar à
democracia um país de primeiro mundo, com a esquerda chupando o dedo ao ver
todas as suas teses derrotadas pelo simples princípio do desenvolvimento
econômico apostando na força do mercado e da liberdade.
Claro que haveria percalços, mas com o povo percebendo o
progresso, recebendo bons salários e o país entrando no rol dos desenvolvidos,
os petralhas da vida não teriam vez, seriam uma força de, no máximo, 10% dos
votos, berrando no vazio suas teses autoritárias e ultrapassadas.
A Petrobras é um exemplo de como a esquerda e as ditaduras usam
o patrimônio público a seu favor e não a favor do país.
Depois da ditadura, o Brasil sofreu para chegar até a era
FHC, onde um pouco de clareza da competição mundial foi colocada à mesa, não
sem um grande sacrifício de todos, com as batalhas contra o desemprego, contra as
crises mundiais que nos afetavam e contra os ataques especulativos a uma moeda que
engatinhava e tentava abrir seu caminho na selva capitalista.
As privatizações das telefônicas e dos bancos estaduais
foram dois grandes exemplos de que o Brasil tinha condição de atrair o mundo
para cá, o que já vinha acontecendo desde que Collor chamou os carros nacionais
de carroças (e ele tinha razão) e acabou com a absurda taxa de importação dos
automotores.
Mas a Petrobras, por força de campanhas sindicais e de
partidos de esquerda, continuou estatal. Até hoje o PT fala que o PSDB queria
privatizá-la. E talvez alguns tucanos quisessem mesmo. E estavam com a razão. A
Vale, privatizada, se transformou numa das maiores do mundo. A Embraer, idem. E
a Petrobras?
O que ocorreu com a Petrobras de 2003 para cá, é algo digno
de constar dos anais acadêmicos, tendo como o título alguma coisa assim: ”Como
afundar uma empresa que produz algo que vende muito e que não tem concorrência”.
Depois de 12 anos com o PT no comando da estatal, o seu
valor de mercado caiu de mais de 200 bilhões de dólares para algo em torno de
80 bilhões, sem que houvesse uma crise de produção, ou que os produtos
fabricados tivessem perdido preços de forma alarmante.
E sua dívida, com a atual desvalorização do real, cresceu a
ponto de chegar a meio trilhão de reais. Não está errado, não! A Petrobras deve
hoje 513 bilhões de reais e se o dólar continuar a subir, vai dever mais, pois
grande parte de sua dívida é resultante de empréstimos na moeda norte-americana
e 90% de seu faturamento é em real.
Em qualquer país do mundo, um fato como esse derrubaria – e botaria
na cadeia, provavelmente, pois é impossível causar um estrago desses sem roubar
– todos os responsáveis nesses anos todos pelo descalabro. Inclusive a presidente
Dilma Rousseff, ministra das Minas e Energia (que manda na Petrobras), presidente
do Conselho de Administração (que manda no presidente da Petrobras), chefe da Casa
Civil (que manda em todos os ministros) e presidente da República (que manda em
todo mundo).
Hoje fica claro que o PT, além de não saber administrar
porra nenhuma, transforma o patrimônio público em sucata, depois de rapiná-lo
quase que totalmente. Por óbvio, são contra toda e qualquer privatização. Por
que esse partido continua governando o Brasil é um pergunta cuja resposta só é
encontrada na cara de pau e safadeza dos governantes todos, no conluio com o
Legislativo e o Judiciário que são comparsas da rapinagem e na covardia das
oposições.
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