As críticas que se fazem a Aloizio Mercadante, chefe da Casa
Civil e, teoricamente, o ministro mais importante do governo, têm sua razão de
ser. E hoje, em entrevista à Folha, ele prova que não enxerga a realidade como
ela deveria ser. Ou como ela é.
Se foi sincero em todas as respostas, ele não vê quase
nenhum erro no governo Dilma, atribui a crise brasileira a uma crise mundial
que já acabou faz tempo, erra ao dizer que os países emergentes sofrem as
consequências da crise agora, atribui à oposição uma espécie de mágoa por não
ter sido eleita e considera que o desejo de impeachment vem antes do fatos, o
que é uma visão ingênua ou desonesta dos acontecimentos.
Sem contar que em relação à corrupção, nada diz sobre o
envolvimento total do seu partido e governo, preferindo afirmar que nunca a
Polícia Federal teve tanta liberdade para agir, sem olhar para o número inimaginável
de casos de corrupção que o governo petista vem patrocinando ou como se o
governo federal mandasse a PF investigar isso ou aquilo.
O cargo que Mercadante exerce é, como disse, teoricamente, o
mais importante do governo depois do presidente. Ao chefe da Casa Civil sempre
coube uma espécie de coordenação política do governo e de linha de frente nos
projetos todos. O chefe da casa Civil manda nos ministros todos. Não à toa,
José Dirceu pegou o cargo (não foi Lula que lhe ofereceu, obviamente) e, caso
não entrasse nos anais do Código Penal Brasileiro, mandaria mais que Lula durante
os oito anos de governo e se credenciaria a substituí-lo no lugar de Dilma. O
Mensalão – que ele criou e chefiou, sem dúvida – ceifou-lhe a carreira
imediata. E agora, o Petrolão, apagou-lhe qualquer pretensão. Era chamado de “todo-poderoso”,
o que passa longe de vir a se constituir um apelido de Mercadante.
E a entrevista de hoje comprova que Mercadante, se teve algum
poder um dia, foi obrigado, por incompetência de assumi-lo, a dividi-lo com
coordenadores políticos que também não deram certo, ou por incompetência
própria, como Jacques Wagner ou Edinho Silva, ou por ter outros planos, como
Michel Temer, que não se casam com fazer meio de campo para outra pessoa. Renan
Calheiros, efêmero na missão de apaziguar o Congresso, nem chegou a ser chamado
de coordenador de coisa alguma. Não tem estatura moral ou política para nada.
Parece que quem mora em Brasília e está no poder não consegue enxergar o país, o dia a dia das pessoas e nem as agruras pelas quais o povo está passando. Não vai demorar muito para começarem as convulsões sociais. Aí eu quero ver o que eles vão fazer.
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