As variáveis da política brasileira – e do próprio futuro do
país – que hoje se apresentam é de deixar qualquer um doido. Vivemos num país
que, há pouco mais de 12 anos, no que se refere à economia, navega ao sabor do momento,
planeja no máximo a semana seguinte, tem picos de euforia econômica e fases de
depressões profundas como a atual.
Já no que se refere à política, o quadro é muito pior.
Depois do processo do Mensalão, esperava-se um recrudescimento dos ladrões dos cofres
públicos. Mas, como diz a moça desiludida com o amante, “qual o quê!” A
roubalheira aumentou e fez-se dela instituição nacional. A corrupção que já era
monstruosa no Brasil, nos últimos 12 anos se tornou epidêmica.
Do Mensalão ao
Petrolão, vai-se descobrindo que a turma não deixou passar um orçamento em
branco, uma verba que, destinada a fosse lá o que fosse, nela não deixassem as
impressões digitais políticos de vários partidos, surrupiando o percentual
máximo possível e formando quadrilhas em todos os recantos do país, já que a
impunidade era garantida. Nem poderia ser de outro modo, já que a corrupção
partia da cúpula, como no Mensalão, e animava a qualquer um a estender seus
tentáculos até a verbinha da ONG criada para ajudar velhinhas desamparadas e solitárias.
A operação Lava Jato deu – está dando – uma boa brecada na
corrupção da cúpula. Mas a PF e o MP continuam descobrindo, quase que
diariamente, novas mamatas espalhadas pelos mais distantes rincões.
E hoje, depois da denúncia de Janot contra Eduardo Cunha, o
quadro se bagunçou de tal forma que qualquer analista se perde nas inúmeras e
complicadas variáveis que se apresentam. Vou tentar colocar aqui algumas delas,
mesmo correndo o risco de esquecer de várias.
Eduardo Cunha já disse que vai continuar na presidência da
Câmara e com uma desculpa sensacional: se quiserem tirá-lo por causa da
denúncia, Renan Calheiros, presidente do Senado, nem poderia tomar posse. Ele
está denunciado também de crime mais que comprovado. O processo está parado há
anos no STF...
Com Cunha no comando da Câmara e terceiro homem na sucessão
presidencial – se Temer for cassado junto com Dilma pelo TSE, Cunha assume e
convoca eleições em 90 dias – ele continuará
a ser uma espécie de mata-cavalo no caminho do Executivo, com suas pautas
bombas e conspirações à sorrelfa.
Michel Temer, o vice, andou dizendo hoje através de alguns “companheiros”,
que a fase dele como bombeiro do Planalto (ou negociador ou qualquer outra
coisa) acabou. Acabou, aliás, sem começar. Alguns acertos que ele fez para
acalmar a base aliada foram olimpicamente ignorados por Dilma. Não fosse ele o
principal beneficiário da queda da “mulher sapiens” teria dado o troco em alto
e bom som. Preferiu engolir sem reclamar,
mas aumentou em vários graus a temperatura da conspiração que corre solta nos
bastidores.
O PT, uma sigla que cada vez mais quer dizer “perda total”,
tenta fazer valer qualquer coisa, desde discursos repetitivos sobre um golpe
que não existe, até organizar protesto a favor do seu governo, mas sem poder
conter quem é aliado, vai ao protesto, mas para protestar contra o... governo
petista. A esquerda raivosa ou a que anda de fora da farra com o dinheiro
público, quer porque quer o fim do ajuste fiscal e a saída de Joaquim Levy do
comando da economia, ele que é o único ministro que gera alguma confiança no
mercado. Sem ele – e o sucessor seria um petista, já que não há na praça nenhum
liberal louco o suficiente para pegar esse enorme abacaxi – a economia
degringolaria de vez e o Brasil afundaria, talvez antecipando fisicamente
(moralmente ele já não existe) o fim do governo Dilma e o enterro definitivo do
PT.
Sem o PT, cabe ao PMDB pensar no futuro do governo e é isso
que Temer vem fazendo, já conversado com líderes da oposição para tratar da
divisão do poder em caso de queda de Dilma. É uma das hipóteses e a que mais
agrada boa parte do PSDB, menos aquela aliada de Aécio Neves.
O senador mineiro, que seria hoje presidente não fosse o
Bolsa Família e o uso indiscriminado e criminoso da máquina pública para eleger
Dilma, quer ver Temer fora também, com Cunha assumindo e convocando eleições.
Ele é favorito hoje em todas as pesquisas e é por isso que a ala tucana aliada
a Geraldo Alckmin não quer essa solução. Prefere Dilma governando (derretendo) até
2018, ou, vá lá, Temer assumindo para completar o mandato. Alckmin quer tempo
para se projetar e ser candidato a presidente no lugar de Aécio.
Lula, cada vez mais perto de ser chamado por Sergio Moro, é
hoje uma espécie de fantasma a pairar sobre o governo Dilma e o resto do
Brasil. Seu prestígio se resume quase que ao PT e a distantes e pobres rincões
onde as notícias não chegam. Continua a fazer discursos que nada valem e sua “carteira
de palestras” não deve receber qualquer pedido faz tempo. As pesquisas indicam
que hoje ele perderia para Aécio, Alckmin e Serra num eleição presidencial. Mas
tem capacidade para, com suas bravata e mentiras, enganar muita gente numa
campanha. Já fez isso quatro vezes e pode fazer de novo, embora hoje seja muito
mais difícil.
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