sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Samba do crioulo doido

As variáveis da política brasileira – e do próprio futuro do país – que hoje se apresentam é de deixar qualquer um doido. Vivemos num país que, há pouco mais de 12 anos, no que se refere à economia, navega ao sabor do momento, planeja no máximo a semana seguinte, tem picos de euforia econômica e fases de depressões profundas como a atual.  

Já no que se refere à política, o quadro é muito pior. Depois do processo do Mensalão, esperava-se um recrudescimento dos ladrões dos cofres públicos. Mas, como diz a moça desiludida com o amante, “qual o quê!” A roubalheira aumentou e fez-se dela instituição nacional. A corrupção que já era monstruosa no Brasil, nos últimos 12 anos se tornou epidêmica. 

Do Mensalão ao Petrolão, vai-se descobrindo que a turma não deixou passar um orçamento em branco, uma verba que, destinada a fosse lá o que fosse, nela não deixassem as impressões digitais políticos de vários partidos, surrupiando o percentual máximo possível e formando quadrilhas em todos os recantos do país, já que a impunidade era garantida. Nem poderia ser de outro modo, já que a corrupção partia da cúpula, como no Mensalão, e animava a qualquer um a estender seus tentáculos até a verbinha da ONG criada para ajudar velhinhas desamparadas e solitárias.

A operação Lava Jato deu – está dando – uma boa brecada na corrupção da cúpula. Mas a PF e o MP continuam descobrindo, quase que diariamente, novas mamatas espalhadas pelos mais distantes rincões.

E hoje, depois da denúncia de Janot contra Eduardo Cunha, o quadro se bagunçou de tal forma que qualquer analista se perde nas inúmeras e complicadas variáveis que se apresentam. Vou tentar colocar aqui algumas delas, mesmo correndo o risco de esquecer de várias.

Eduardo Cunha já disse que vai continuar na presidência da Câmara e com uma desculpa sensacional: se quiserem tirá-lo por causa da denúncia, Renan Calheiros, presidente do Senado, nem poderia tomar posse. Ele está denunciado também de crime mais que comprovado. O processo está parado há anos no STF...

Com Cunha no comando da Câmara e terceiro homem na sucessão presidencial – se Temer for cassado junto com Dilma pelo TSE, Cunha assume e convoca eleições em 90 dias –  ele continuará a ser uma espécie de mata-cavalo no caminho do Executivo, com suas pautas bombas e conspirações à sorrelfa.

Michel Temer, o vice, andou dizendo hoje através de alguns “companheiros”, que a fase dele como bombeiro do Planalto (ou negociador ou qualquer outra coisa) acabou. Acabou, aliás, sem começar. Alguns acertos que ele fez para acalmar a base aliada foram olimpicamente ignorados por Dilma. Não fosse ele o principal beneficiário da queda da “mulher sapiens” teria dado o troco em alto e bom som.  Preferiu engolir sem reclamar, mas aumentou em vários graus a temperatura da conspiração que corre solta nos bastidores.

O PT, uma sigla que cada vez mais quer dizer “perda total”, tenta fazer valer qualquer coisa, desde discursos repetitivos sobre um golpe que não existe, até organizar protesto a favor do seu governo, mas sem poder conter quem é aliado, vai ao protesto, mas para protestar contra o... governo petista. A esquerda raivosa ou a que anda de fora da farra com o dinheiro público, quer porque quer o fim do ajuste fiscal e a saída de Joaquim Levy do comando da economia, ele que é o único ministro que gera alguma confiança no mercado. Sem ele – e o sucessor seria um petista, já que não há na praça nenhum liberal louco o suficiente para pegar esse enorme abacaxi – a economia degringolaria de vez e o Brasil afundaria, talvez antecipando fisicamente (moralmente ele já não existe) o fim do governo Dilma e o enterro definitivo do PT.

Sem o PT, cabe ao PMDB pensar no futuro do governo e é isso que Temer vem fazendo, já conversado com líderes da oposição para tratar da divisão do poder em caso de queda de Dilma. É uma das hipóteses e a que mais agrada boa parte do PSDB, menos aquela aliada de Aécio Neves.

O senador mineiro, que seria hoje presidente não fosse o Bolsa Família e o uso indiscriminado e criminoso da máquina pública para eleger Dilma, quer ver Temer fora também, com Cunha assumindo e convocando eleições. Ele é favorito hoje em todas as pesquisas e é por isso que a ala tucana aliada a Geraldo Alckmin não quer essa solução. Prefere Dilma governando (derretendo) até 2018, ou, vá lá, Temer assumindo para completar o mandato. Alckmin quer tempo para se projetar e ser candidato a presidente no lugar de Aécio.

Lula, cada vez mais perto de ser chamado por Sergio Moro, é hoje uma espécie de fantasma a pairar sobre o governo Dilma e o resto do Brasil. Seu prestígio se resume quase que ao PT e a distantes e pobres rincões onde as notícias não chegam. Continua a fazer discursos que nada valem e sua “carteira de palestras” não deve receber qualquer pedido faz tempo. As pesquisas indicam que hoje ele perderia para Aécio, Alckmin e Serra num eleição presidencial. Mas tem capacidade para, com suas bravata e mentiras, enganar muita gente numa campanha. Já fez isso quatro vezes e pode fazer de novo, embora hoje seja muito mais difícil.

Por essas e outras – muitas outras, aliás – é que os analistas estão perdidos nas variáveis que ora se apresentam na conturbada e confusa política brasileira. O que vai acontecer na semana que vem é algo que não dá para prever nem no próximo domingo. Com certeza, com a Justiça tentando chegar aos grandes da política (“grande” pelos cargos, não pelas qualidades) o cenário tende a mudar quase que de hora em hora. E pode acontecer de tudo nesse Brasil que ainda não aprendeu de fato a eleger, com exceção de FHC, pessoas capazes de governá-lo com sabedoria. 

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