Um antigo, pero no mucho, personagem do malfadado governo do
“doutor” Hélio em Campinas foi citado, na noite desta sexta-feira, no blog O Antagonista.
E foi citado num mesmo post em que suspeitas idas a Portugal de Lula e Zé
Dirceu são mais ou menos detalhadas.
O personagem é Luis Carlos da Rocha Gaspar que, durante quase
nove anos, presidiu meio anonimamente (explico mais adiante) o Polo de Alta
Tecnologia de Campinas (Ciatec). Leiam o que saiu em O Antagonista. Eu volto depois.
Em julho de 2010, o
superconsultor José Dirceu integrou uma missão oficial liderada por Lula a
Cascais. O Antagonista já mencionou aqui o interesse de Lula pelo balneário
português e a menção no caderno vermelho da JD Consultoria a uma certa
"Quinta" na freguesia de Parede, lá mesmo, em Cascais. A viagem tinha
como objetivo "internacionalizar o Polo de Alta Tecnologia de
Campinas", conhecido como CIATEC, então dirigido por um velho amigo de
Dirceu de seu exílio cubano, o ex-guerrilheiro Luis Carlos da Rocha Gaspar.
Campinas era administrada por outro amigo de Dirceu, o Dr. Hélio, depois
condenado por improbidade administrativa - um legado petista.
A programação do
evento previa uma palestra de Dirceu: "Brasil e sua estratégia na área de
Alta Tecnologia, Integração Brasil e Comunidade Europeia, em especial
Portugal". Não se tem notícia dos frutos dessa viagem e Gaspar desapareceu
do noticiário após deixar o Ciatec e ser citado a devolver honorários indevidos
que embolsou enquanto estava lá.
O Antagonista gostaria
de saber o paradeiro de Gaspar e se ele sabe algo sobre a tal
"Quinta".
Por onde andas,
Gaspar?
Pois é, as intenções de Lula e Zé Dirceu não foram anunciadas
nem em Campinas à época, talvez por que Gaspar, sem trocadilho, era um espécie
de funcionário fantasma. Se deu uma entrevista durante os quase 8 anos que
permaneceu na Ciatec foi muito. Eu mesmo, que escrevia o Xeque Mate no Correio
até 2007, consegui falar com ele apenas uma vez, numa entrevista de rádio,
curta e sem muita possibilidade de entrar em detalhes.
E a história desse amigão de Zé Dirceu em Campinas começou –
segundo fontes que me informaram à época, mas sem que eu conseguisse comprovar –
entre o primeiro e o segundo turno da campanha eleitoral de 2004. Hélio e
Carlos Sampaio disputavam um segundo turno que tinha o tucano como franco
favorito. Hélio, sem recursos para continuar a campanha – ele não esperava
chegar ao segundo turno – chegou a pensar em desistir. Mas, de repente,
apareceu uma ajuda milagrosa de Brasília.
O então todo-poderoso Zé Dirceu, ao perceber uma
possibilidade de derrotar o PSDB numa cidade muito importante, mandou recursos
para Hélio. E quem os trouxe foi exatamente Gaspar. Nenhum personagem envolvido
na campanha de Hélio confirma a quantia que chegou. Os números, sempre ditos à
boca pequena, variavam entre três e cinco milhões de reais. In cash, em malas.
Caixa 2, naturalmente.
Hélio ganhou de Carlão, numa virada histórica e o
desconhecido Gaspar foi nomeado para a Ciatec. E por lá ficou, calado e mudo.
Mas o fato é que Campinas talvez tenha sido uma das cidades
que mais receberam recursos federais durante o governo de Hélio. O então
secretário de Comunicação municipal, Francisco de Lagos, me disse que foram R$
500 milhões que Lula despejou aqui entre 2005 e 2008. Hélio foi reeleito no
primeiro turno em 2008, dando uma surra histórica no PSDB que teve novamente Carlos
Sampaio como candidato.
Na curta entrevista que Gaspar deu à Rádio Cultura AM (então
reproduzindo a programação da Rádio Globo de São Paulo), num programa comandado
por Angelo Barione, onde eu participava, por telefone, por uns 15 minutos, perguntei
a Gaspar se era verdade a grande amizade com Zé Dirceu. Ele confirmou e disse
que a amizade vinha de longe, “desde Cuba”. Sobre recursos para a campanha de
Hélio que ele teria trazido, disse que jamais se prestou a tal serviço, o que
era uma resposta mais que óbvia.
Em dezembro de 2005, bem antes dessa entrevista, Dirceu foi
cassado, na esteira do Mensalão, ele que já havia perdido o cargo de principal
ministro de Lula. Mas continuava influente, como sabemos hoje, já que continuou
mandando em muita coisa, recebendo dinheiro de propina e fazendo “consultorias”
de interesse tanto de empresas quanto do governo, principalmente do chefe Lula,
como essa noticiada por O Antagonista – uma viagem a Portugal que grandes
empresas estavam negociando no Brasil, acompanhado de Lula.
E o poder de Dirceu foi suficiente para manter seu amigo no
cargo aqui em Campinas até depois que Hélio foi cassado. Gaspar só foi demitido
em dezembro de 2013, por Jonas Donizette (PSB) que havia assumido em janeiro
daquele ano, substituindo Pedro Serafim (PDT) que havia substituído os dois
cassados por corrupção: o “doutor” Hélio (PDT) e seu vice Demétrio Vilagra
(PT).
Hoje, com a nota do blog de Diogo Mainardi, Mario Sabino e
Claudio Dantas, ficamos sabendo a Ciatec foi usada como desculpa para “estreitar
laços” entre a cúpula petista (Lula e Zé Dirceu) e empresários portugueses
interessados em expandir suas empresas comprando ativos no Brasil. E como esses
negócios dependiam do governo
brasileiro, nada melhor do que palestras sobre tecnologia de um centro
localizado em uma cidade com fama no setor para encobrir as verdadeiras
intenções de Lula e Zé Dirceu.
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