Campinas completa nesta terça-feira, 14 de julho, 241 anos
de fundação. Com quase dois séculos e meio a cidade tem histórias de glórias para
contar, mas vive um presente ruim e um futuro incerto.
Grande metrópole, há quase uma década chegou ao primeiro
milhão de habitantes e se posiciona entre as 10 ou 12 maiores cidades do
Brasil. Com economia avançada, renda per capita acima da médica nacional, tem moderno
centro tecnológico, um dos maiores aeroportos do país, é cortada por grandes rodovias,
fica perto da maior cidade do Brasil, é a segunda praça bancária do país, hospeda
duas grandes universidades e várias faculdades privadas e sofre quase toda
sorte de agruras próprias dos grandes centros brasileiros.
Não era pra ser assim, claro. O primeiro motivo para Campinas
não se tornar um paraíso mercê todo seu potencial é o sistema de distribuição
de rendas que permeia nossa democracia. Um volume enorme de impostos é cobrado
do cidadão, mas esse imposto não volta como deveria voltar, na forma de
serviços e obras. E nem é devolvido à cidade que o gerou na quantidade necessária.
E o pico que retorna, muitas vezes se perde nos descaminhos dos governos, nas
obras inacabadas, nas ações desnecessárias e na corrupção que desgraça todos
nós.
Do exemplo central, sai o exemplo municipal e Campinas sofre
também, há muito tempo, nas mãos de governantes inescrupulosos, que fazem do
posto para o qual foram eleitos, escadas para ascensão social financeira e
dividendos políticos. O último prefeito que olhou a cidade com mais
sensibilidade morreu há 19 anos e, antes ou depois dele, Campinas padeceu com
governos fracos, incompetentes, corruptos e que abriram caminhos para um
desenvolvimento sem qualquer planejamento que acabou provocando a falência dos
serviços públicos e está levando Campinas a algumas situações de caos no
trânsito, na saúde, na moradia, na educação e no transporte público.
O aniversário da cidade pode ser motivo de festa para os
atuais governantes, que promovem atrações que vulgarmente tentam homenagear a
data. Mas a realidade está sempre a gritar mais alto.
A violência desmedida, com assassinatos diários e dezenas (centenas?)
de assaltos e roubos, compõe o outro cenário que as autoridades não conseguem
disfarçar. Não há segurança nas ruas e, muitas vezes, nem dentro de casa, embora
se gaste milhões e milhões de reais por mês para manter uma polícia militar,
uma polícia civil, uma guarda municipal e uma segurança privada.
Outros milhões do orçamento municipal são gastos com a saúde
e, no entanto, são raros os postos que atendem rapidamente os pacientes, as
farmácias municipais que tenham remédios, os hospitais sem prontos-socorros
lotados com fila de espera de horas e horas. Sem contar a epidemia de dengue,
moradora na cidade há quase uma década e que virou notícia nacional ao bater agora
todos os recordes – de cada 20 cidadãos da cidade, um está ou esteve com dengue
em 2015. Um triste recorde que, aliás, pode ser quebrado em 2016.
Assim, a cidade vai envelhecendo e, ao invés de adquirir a
sabedoria própria da idade e oferecer a seus cidadãos um padrão de vida cada
vez melhor, ela faz o trajeto inverso e, a cada ano expõe novas feridas em suas
campinas. Pobre cidade que expande seus limites com uma população cheia de
esperanças, mas que nada oferece em troca do esforço que todos fazemos para
aqui viver e sobreviver.
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