Uma carta enviada ao Correio Popular de Campinas pela Secretaria
de Comunicação da Prefeitura dá bem a ideia de que o atual governo pouco
entende da cidade. Ao responder um leitor que havia criticado o poder municipal
por conta das inundações que ocorrem no Centro quando chove um pouco mais
forte, a Prefeitura respondeu que a “revitalização do Centro – e da Glicério –
é uma dívida antiga que a municipalidade tem com a história da cidade e com
seus cidadãos”.
Aí já começa o engano disfarçado de engodo ou vice-versa.
Acontece que revitalizar o Centro é uma coisa e transformar a Glicério numa
avenida mais estreita com calçadas mais largas com algumas floreiras, é outra bem diferente. Enterrar a fiação é bom, mas a cidade inteira precisa desse tipo de ação, já que os postes, mesmo nos bairros, já estão entortando devido ao peso da enorme quantidade de fios que por eles passam.
Além do mais, não há notícia de que as obras que estão sendo realizadas na Glicério
serão expandidas para o resto do Centro. Aliás, não há sequer um projeto
conjunto do qual a Glicério seria uma parte, como deveria ser caso tivéssemos um governo sério.
E sem essa expansão, com a diminuição do leito carroçável da
Glicério, os congestionamentos que já são constantes na região, se tornarão
permanentes. Sem contar que o próprio projeto para a avenida é um negócio mal
feito que não passaria pelo crivo de uma bancada de arquitetos com o mínimo de
experiência em intervenções urbanas.
Mas a resposta da Secretaria de Comunicação da Prefeitura
prossegue afirmando que “trata-se de um espaço cívico, simbólico” e penso estar
aí o maior equívoco dessa cartinha para o jornal.
A Glicério é a artéria importante do Centro, embora avenidas
como a Moraes Salles, a Campos Salles, Anchieta, Senador Saraiva e ruas como a
General Osório e a Benjamin Constant também tenham grande importância. Só que o
tal do “espaço cívico, simbólico”, está longe de ser a avenida inteira. Quando
muito o Largo do Rosário e a Praça Guilherme de Almeida carregam um simbolismo
cívico maior. Fosse por esse critério, as ruas Barão de Jaguara, Dr. Quirino e
Luzitana teriam prioridade, já que nelas nasceu Campinas, dali se expandindo
para formar a grande área central.
A “revitalização” da Glicério pode e vai melhorar a
aparência da avenida, mas temo que a Prefeitura, na ânsia de realizar uma obra
de impacto no Centro, esteja perdendo uma grande oportunidade de pensar uma
solução para toda a região que se mostra extremamente problemática. E o
afunilamento já anunciado deve trazer graves consequências para o trânsito, com
reflexos nas outras ruas e avenidas que, tão merecedoras de uma revitalização
quanto a Glicério, foram esquecidas pelo atual governo municipal. Ou como disse
um amigo no Café Regina, dia desses, “não é nem uma revitalização ‘meia-boca’.
É, no máximo, uma maquiagem na Glicério”.
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