quinta-feira, 9 de abril de 2015

Fim de feira

A postura do PT após a derrota na Câmara, na votação do projeto de lei que amplia a terceirização no país, é idêntica à que ele tinha quando era minoria, ou seja, antes de Lula tomar posse, em janeiro de 2003. A orientação geral era que em todas as instâncias legislativas (Câmara de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado) quando o partido perdesse uma votação, deveria recorrer à Justiça para tentar barrar a vontade da maioria. Tática aliás, usada até hoje onde o PT e alguns partidecos de esquerda são oposição minoritária.

O anúncio do recurso ao Supremo Tribunal Federal feito ontem contra a aprovação do projeto é sinal de que o PT está se comportando novamente como minoria e isso – convenhamos – é muito bom para o Brasil.

Só que o cenário não é bem o de antes de 2004. O PT está no poder há pouco mais de 12 anos e, até o fim do ano passado, teve pouquíssimos problemas em relação a votações na Câmara dos Deputados ou no Senado. Talvez o fim da CPMF tenha sido a única derrota mais visível.

A decisão de recorrer revela principalmente que a base aliada já não é mais tão aliada assim. Foram 324 votos a favor do projeto e apenas 137 contra. E isso acontece no mesmo momento em que o governo federal estava estreando seu novo articulador político, que é o vice-presidente da República e o presidente do PMDB, Michel Temer. Claro que o tempo foi curto, mas o resultado pode ser sinal de que nem com o presidente do partido articulando para o governo, o PMDB volte a ser o aliado maior da situação.

Mas o sinal maior do resultado da votação é que o governo Dilma não se sustenta mais e vive um formidável fim de feira tendo ainda 3 anos e 9 meses pela frente. Esses 3 meses e pouco de “governo” no segundo mandato deram mostras mais que suficientes de que a presidente não tem mais a mínima condição de governar.

Desde a implantação de medidas que ela não só jurou durante a campanha que jamais tomaria, como acusou seus adversários dizendo que eles iam fazer exatamente o que ela está fazendo, até a entrega ao PMDB da articulação política (talvez hoje a função mais importante no governo) o que se viu foi uma direção confusa, ao sabor de um marketing que já não funciona mais.

A essa direção errática podemos juntar a economia apresentando sinais concretos de inflação, desemprego, diminuição de investimentos, atrasos formidáveis em obras e pagamento, enfim um cenário que junto ao destrambelhamento político dá bem ideia da balbúrdia e da impossibilidade de o PT e Dilma continuarem no poder.

A solução? Impeachment (há juristas de alto coturno que garantem que há fatos que sustentariam um processo de impedimento); renúncia (um gesto pessoal que ela pode até tomar, mas acho difícil) ou uma estratégica licença para cuidar da saúde, sem data para voltar.

Há ainda a solução judicial, afinal os crimes cometidos pelo governo são muitos – petrolão, corrupção em todos os setores, empréstimos secretos do BNDES ao total arrepio da lei etc. – e bastaria uma condenação pelo STF para apeá-la do poder.

Enfim, Dilma é hoje uma espécie de rainha da Inglaterra (sem o charme e a história da quase nonagenária Elizabeth II) que não governa mais. A economia está entregue a um liberal cujas medidas enfurecem boa parte do PT; a agenda parlamentar está no comando de dois peemedebistas que presidem as casas legislativas e fazem visível oposição; e a articulação política – campo no qual o governo poderia ganhar terreno caso tivesse competência – acabou nas mãos do presidente do PMDB, o primeiro sucessor na linha direta caso Dilma não aguente segura mais o rojão.

Esse é o Brasil de hoje, atolado na incompetência e na corrupção que o PT institucionalizou durante seus 12 anos de poder.

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