quarta-feira, 25 de março de 2015

Com o PT, vence quem mente

Falar a verdade para o governo petista pode causar sérios danos. E, às vezes, nem precisa ser contra petistas. Meter a boca em aliados, mesmo que seja verdade, pode ter o mesmo efeito.

A primeira vítima desse, digamos, modo de agir petista, pode ser encontrada lá no início do governo Lula. Toda a imprensa – e todo o governo também e a maioria da população brasileira, creio – sabia que o presidente era chegado naqueles líquidos que passarinho não bebe. Claro que ele havia evoluído do conhaque Presidente que emborcava quando sindicalista, para finos vinhos franceses ou uísques de 12 a 18 anos de envelhecimento depois que vestiu a faixa verde-amarela.

Pois foi só um repórter do New York Times contar em belo texto que o presidente se denunciava pelo forte hálito sabendo a álcool, e a fúria palaciana caiu sobre ele, que quase perde o visto de trabalho no Brasil.

Mas o que não sabíamos, na ocasião, é que atacar ferozmente quem fala a verdade viria a ser uma prática constante no governo petista.

Por exemplo: quem ousou falar que o Mensalão existia perdeu a boquinha na hora. E mesmo depois que os chefes da quadrilha comandada por Zé Dirceu, segundo um ministro do STF, foram presos, ninguém ousava falar, perto de Lula, que o Mensalão tinha sido de fato aquele esquema criminoso todo desvendado pelo Ministério Público e condenado pelo STF. Até o próprio Lula tinha medo de dizer a verdade, tanto que prometeu sair pelo Brasil afora, depois de substituído na Presidência, berrando que o Mensalão jamais existira. Ele não saiu, deixando de cumprir também essa promessa, como muitas outras, mas ela serviu ao menos para deixar bem claro que ele também não iria falar a verdade.

A marolinha na economia brasileira provocada pelo tsunami internacional também era outra mentira que ninguém ousava desdizer. E uma marolinha que não ia provocar dano algum na sólida economia brasileira que o PT havia criado, porque o Brasil crescia não por causa dos bons ventos internacionais que sopravam desde 2004, mas pela genialidade do governo petista, que jamais usos as bases herdadas de FHC etc. e tal.

Essa a mentira vigorou na economia oficial, com o pândego Mantega à frente, até cair a máscara – logo depois da reeleição de Dilma – e a verdade ser escancarada.

A crise que se seguiu – e que está aí mais exposta que a Monalisa de Michelangelo no Museu do Louvre – deixou o governo petista desarvorado e alguns deles não seguiram a ordem geral de manter as mentiras a qualquer custo.

O primeiro, no atual governo, foi o chefete neo-nordestino Cid Gomes, nomeado para a Educação, mostrando logo de cara que lhe faltava justamente educação. Bateu de frente com os deputados ao chamá-los de achacadores, o que, convenhamos, é a mais verdade que mentira. Mas como ao governo petista interessa manter a mentira de que achacadores não existem, o chefete neo-nordestino dançou. Dizem por aí que ele fez tudo de caso pensado para sair por cima de um governo que ele percebeu desmanchando. Mas, vejam só, a estratégia que ele teria adotado para ser demitido do governo petista foi simples: falar a verdade.

No meio da crise dos achacadores, surgiu a crise do “caos comunicativo”, oriunda de um documento escrito pelo novo (e já ex)  ministro da Comunicação, Thomas Traumann. O moço cometeu sentença eivada de verdades sobre a bagunça do governo e foi além: apontou como solução o uso de verbas oficiais para promover o governo petista no meio privado, restaurando o que foi feito durante a campanha eleitoral. Sugeriu comprar de novo uma enorme legião de blogueiros, jornalistas ou não, com dinheiro do Tesouro, para inundar as redes sociais de textos elogiosos ao governo, criando um clima que gerasse a (falsa) sensação de satisfação geral...

O moço cometeu dois erros: botou o dedo na ferida apontando o caos em que se encontrava o governo petista e sugeriu um crime como solução. Claro que tivesse feito a análise e dado a sugestão entre quatro paredes, quase com certeza voltaria das férias que tirou logo após vazar o documento ainda empregado e com possibilidades de crescer no conceito da cúpula pelas sugestões. Mas foi falar a verdade em público e perdeu o cargo, como já havia acontecido antes com outros petistas.


Enfim, com o PT é assim: quando a verdade desmascara os que ainda têm poder, melhor se calar se quiser preservar os dedos e os anéis. 

Um comentário:

  1. Parabéns e muito sucesso. Gosto muito de ler tudo que escreve de política. Confio em você. Além de ser sua fã.

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